kenneth maxwell
A caixa de entrada de Dilma
Dilma
Rousseff toma posse hoje em seu segundo mandato. O dia deveria ser de comemoração.
Ser a primeira mulher eleita –duas vezes– para o mais alto cargo brasileiro é uma
façanha notável.
Ela
conseguiu grandes realizações em seus primeiros quatro anos, especialmente ao
sustentar e ampliar os programas sociais e reduzir a pobreza. A vitória
apertada que lhe deu o segundo mandato foi conquistada com base nessas realizações.
As atenções vêm se concentrando na formação de seu novo governo, mas existem
nuvens ameaçadoras se formando no horizonte.
A
caixa de entrada da presidente Dilma está repleta de problemas urgentes, mas não
está em seu poder controlar os principais desafios que enfrenta. Tampouco está em
poder da classe política brasileira. Nem a presidente nem os demais políticos são
capazes de acobertar as consequências dos escândalos de corrupção e propinas
que batem à porta do governo, dos políticos e dos facilitadores com quem eles
se relacionam.
Por
que isso ocorre? Porque os escândalos de corrupção são bipartidários e
internacionais em suas ramificações. A Polícia Federal vem investigando o
cartel que, entre 1988 e 2008, superfaturou fraudulentamente a construção do
Metrô de São Paulo. No período, o Estado foi governado por Mário Covas, José Serra
e Geraldo Alckmin, todos do PSDB.
Os
contratos em questão envolviam grandes empresas estrangeiras, entre elas a alemã
Siemens, a francesa Alstom, Bombardier, do Canadá, e Mitsui, do Japão. O
pagamento de comissões indevidas foi revelado quando a Siemens admitiu que o
cartel havia imposto um sobrepreço de 20% ante o valor cobrado no mercado.
O
escândalo da Petrobras é ainda maior em suas ramificações nacionais e
internacionais. As propinas supostamente envolvem cerca de 50 políticos. Os
promotores públicos brasileiros podem indiciar os envolvidos em breve.
Uma
vez mais as dimensões internacionais do escândalo escapam ao sistema político e
legal do Brasil. As ações da Petrobras no exterior, bem como as de seus
diretores e dos políticos que supervisionam a empresa, estão também sujeitas a
leis, regulamentos, processos por prejuízos fraudulentos e a leis estrangeiras
de combate à corrupção.
E
quanto a Dilma? Uma coisa que pode ser dita com certeza é que ela é notória
pela atenção aos detalhes. Ela foi presidente do conselho da Petrobras por uma
década. Foi ministra das Minas e Energia. Foi presidente da República nos
quatro últimos anos.
Ou
ela não sabia o que estava acontecendo sob sua responsabilidade, o que a torna
incompetente, ou sabia –o que a torna culpada. É muito difícil extrair qualquer
outra conclusão.
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