domingo, 1 de abril de 2012


ELIANE CANTANHÊDE

Dilma, Obama e energia

ESTOCOLMO - Quando Lula e Bush confraternizaram-se em Brasília e em São Paulo (lembra de Lula brincando com o "ponto G"?), a pauta Brasil-EUA girava em torno dos biocombustíveis. Os dois países são líderes nessa área, que remete ao futuro.

Desde então, muita coisa mudou além dos dois presidentes. A energia continua prioritária na pauta, mas pouco se fala de etanol e muito se fala do velho, bom -e poluente- petróleo. É o efeito pré-sal.

Dilma e Obama vão falar de tudo um pouco, mas esta será a questão central no encontro da segunda-feira pós-Semana Santa, nos EUA. Os interesses são complementares e não vamos esquecer que se trata da área de expertise de Dilma.

O pré-sal brasileiro, a zona do Orinoco, na Venezuela, e o golfo da Guiné, na África, formam um triângulo poderoso e um trunfo na nova geopolítica internacional.

Para o Brasil, segundo produtor da região, só atrás da Venezuela, é a garantia de recursos e de desenvolvimento, mas também de prestígio político. Dilma não quer apenas vender petróleo, mas investir no Brasil como polo de produção, distribuição e referência em ciência e tecnologia no setor. Os EUA e seus pontos de excelência, como Houston, podem dar boa contribuição.

E, para os EUA, trata-se de questão estratégica e particularmente de segurança, palavrinha mágica para o país das guerras modernas e da indústria de defesa -e alvo, portanto.

O "triângulo" fica justamente numa área patrulhada pela Marinha norte-americana, o Atlântico sul, e bem longe do sempre conflituoso e agora especialmente tenso golfo Pérsico. Isso já diz tudo.

Ou seja, Dilma vai para Washington no bom ataque -e não no ataque retórico, mas, sim, preparada para a ocupação de espaço e para ganhos econômicos. E Obama vai recebê-la jogando na defesa -do território, da energia e da segurança.

Tudo faz muito sentido.

elianec@uol.com.br

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