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quarta-feira, 9 de novembro de 2011
09 de novembro de 2011 | N° 16881AlertaVoltar para a edição de hoje
ARTIGOS - Afonso Motta*
Até a próxima crise
A crise mundial é financeira, para conter os efeitos negativos da dívida soberana na zona do euro, países europeus tidos como desenvolvidos, mas também envolve a realidade da recessão econômica que atinge os americanos e os demais quadrantes do mundo.
O crescimento econômico é pequeno ou inexistente e, por via de consequência, influi para a falta de empregos e diminuição da atividade econômica, alcançando todos os empreendimentos na suas relações domésticas e os Estados no comércio global.
Por isso, o novo acordo é direcionado essencialmente para os bancos. Mais uma vez. A dívida grega, que o cidadão comum sequer imagina o que significa, sofrerá um corte “voluntário”, para enganar o cliente, como se diz, de 100 bilhões de euros. É muita grana que vai pelo ralo. É um calote de 50% do valor.
A indagação que todos devem fazer é para onde foi essa dinheirama toda. Os especuladores ganharam mais uma vez. Além do mais, os países europeus vão entregar mais outros 100 bilhões de euros para capitalizar os bancos. Ou seja, é o atestado de que está faltando toda essa quantia para as instituições funcionarem. Não é tudo, ainda vão juntar 1 trilhão de euros para capitalizar um fundo que possuem para cobrir eventuais desequilíbrios futuros dos países.
Cansa falar em tanto dinheiro. Essas cifras não existem para as pessoas comuns. Parece que não nos dizem respeito. Mas é evidente que têm tudo a ver. É o dinheiro do contribuinte que vai todo para o pagamento da dívida soberana impagável. Nada se traduz no atendimento das demandas essenciais do cidadão. Pouco para a saúde, segurança ou educação por exemplo.
Mas o pior, dito por especialistas, é que os recursos agora destinados são insuficientes e o movimento cíclico da próxima crise, podem estar certos, já se avizinha, se é que a presente situação vai ser superada com essas medidas. O foco é um só, resolver o problema dos bancos e dar sobrevida aos especuladores.
É bem assim, as bolsas de valores de todo o mundo subiram, o dólar e outras moedas caíram e vice-versa, como se esta síntese fosse a razão de tudo. Neste contexto, o capital para investimento, de longo prazo, que deveria contemplar a solução dos grandes temas de interesse da humanidade, como as obras de infraestrutura e mobilidade urbana, o meio ambiente e a sustentabilidade ficam à margem. Falta capital.
É um paradoxo que os governos, abandonando os seus fundamentos e a sua sustentação política se deixam dominar. É o determinismo que logo ali vai se mostrar mais negativo ainda, em prejuízo de toda a humanidade. Enfim, é a “empurrada de barriga” até a próxima crise.
As instâncias de superação de crises também precisam de novas referências e de um processo adequado de representação e legitimação para os seus respectivos encaminhamentos.
Não podemos aceitar que a contribuição brasileira para solução dos graves problemas financeiros mundiais se traduza pura e simplesmente na destinação de recursos para o FMI. Devemos almejar mais, garantir a titularidade dos nossos recursos naturais e receber tratamento isonômico no comércio global e na regulação dos grandes temas de interesse da humanidade. Esta é a oportunidade.
*Advogado, produtor rural e secretário de Estado
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