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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
23 de fevereiro de 2010 | N° 16255
PAULO SANT’ANA
O conto do bolão
Não pode ter nada pior do que isto: você acertar na Mega Sena, ir até a agência que lhe garante que lá foi feita aposta e lá não existe comprovante de nada, o gerente se explica sem explicar nada, uma tragédia.
Tal foi a sorte de 40 apostadores de Novo Hamburgo que marcaram entre as oito dezenas constantes de seu bolão as seis premiadas com R$ 52 milhões sábado passado.
Cada um dos “felizardos” teria direito a R$ 1,3 milhão. Mas quando foram ver o resultado ficaram assombrados: a Caixa Econômica Federal divulgou que não houve nenhum acertador.
Mas como não houve acertador, se nas cópias que lhes foram dadas pela agência lotérica estavam as seis dezenas ganhadoras?
Evidentemente que o jogo não tinha sido feito. Ou a agência lotérica havia embolsado o total gasto pelos 40 apostadores ou houve algum erro de digitação. Mas, se houve erro de digitação, então o proprietário da agência tem de apresentar o comprovante de que o jogo foi feito com outros números que não sejam aqueles premiados.
Esta história está muito mal contada. Ontem, dezenas de pessoas me falaram que têm a convicção que muitas agências lotéricas arrecadam apostas em bolão e não fazem o jogo, bancando-o: como é muito difícil acertar, estas agências se locupletam com arrecadações que não importam em qualquer aposta. Isto era o que se acreditava ontem no seio do povo.
Estes bolões movimentam uma fortuna no país. É hora de a Caixa Econômica proibi-los ou discipliná-los. Tem muita gente ganhando dinheiro com esse estelionato.
Se é verdade que a Caixa Econômica Federal não pode responsabilizar-se por apostas que não são feitas, também o é que quem administra estes bolões são agentes credenciados pela Caixa.
Ou seja, o público tem confiança nessas lotéricas credenciadas e aposta em bolões.
O certo seria que cada talão de bolão fosse acompanhado por uma fotocópia do comprovante oficial da aposta. Mas isso não é feito e nenhum apostador tem qualquer garantia de que o jogo foi feito: a manobra só é desmascarada quando acontece o que ocorreu agora: saem os números constantes do bolão e jogo nenhum foi feito. Só neste caso é que os apostadores vão reclamar, é lógico.
Mas e nos milhões de vezes que os apostadores não acertam nas dezenas sorteadas, quem é que garante que o jogo foi feito? Isso dá margem a uma tremenda maracutaia.
Mas a Caixa Federal se excusa de qualquer responsabilidade, é crível, pois só pode pagar prêmio por aposta que for feita.
No entanto, como os bolões são organizados por agências lotéricas credenciadas pela Caixa, cumpre que ela discipline a organização dos bolões ou então distribua por todo o país instruções proibitivas da realização desses bolões, o que não pode é essa arrecadação bilionária ficar à mercê de algumas pessoas que podem ser inescrupulosas e estarem a se locupletar com o expediente inidôneo.
Cobrar por aposta não feita é roubo. É assalto à economia popular. Como não há maneira de se fiscalizar se as apostas dos bolões foram realmente realizadas, é preciso tornar ilícita a realização desses bolões, sob pena não só de se repetir o que ocorreu em Novo Hamburgo como também de se canalizarem para mãos desonestas fortunas colossais através de um estelionato tanto deplorável quanto permanente.
Esse tipo de ocorrência acaba prejudicando as agencias lotéricas honestas que organizam seus bolões e fazem realmente as apostas correspendentes a eles.
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