segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010



08 de fevereiro de 2010 | N° 16240
KLEDIR RAMIL


Autobiografia – Os primeiros passos

Quando meu pai começou a insistir com a ideia de que já estava na hora de eu andar com minhas próprias pernas, contra-argumentei: “O importante não é aprender a caminhar, mas saber aonde ir”. Eu era uma criança com sobrepeso, haviam me dado comida em demasia.

Com um pouco mais de agilidade corporal, talvez eu tivesse me movimentado mais cedo. De qualquer forma, eu já estava com três anos de idade, tinha que começar a me mexer. Levantei e saí caminhando. Como não sabia em que direção ir, continuo até hoje andando a esmo. O que confirma minha intuição de que aquela atitude era precipitada.

Meus primeiros passos foram em direção à geladeira. Abri a porta e peguei uma garrafa de 3 Fazendas.

Voltaram os rumores de que tratava-se de uma criança especial, mas minha mãe deu de ombros e resmungou que aquilo só demonstrava que teríamos mais um alcoólatra na família. Apesar de todos os indícios, não me agarrei à bebida. Foi um vício fácil de largar. Depois de dois comas alcoólicos em hospitais públicos, virei abstêmio.

Meus segundos passos foram em direção a uma vizinha, que no esplendor dos seus quatro anos de idade, entortou meu coração e com ele todos os meus conceitos de afetividade. Me agarrei com tamanha força à cintura da guria que foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros para separar. Com a ajuda da Brigada Militar e um balde de água fria.

Meus terceiros passos foram em direção ao rock and roll. Essa pelo menos foi a avaliação do psicólogo, depois de assistir à coreografia que eu insistia em apresentar todas as manhãs, durante as aulas do pré-primário.

Baseado nesse trinômio “sexo, drogas e rock and roll”, comecei a construir os alicerces daquilo que seria a minha existência, se é que se pode chamar assim.

Atravessei os anos com uma certa dignidade, sempre tendo em mente a imagem daquela vizinha estonteante, o movimento correto dos quadris de Elvis Presley e os efeitos alucinógenos do consumo de bebidas destiladas.

Se com esses parâmetros foi possível construir um sujeito com curso superior completo, imagine do que um ser humano é capaz, se partir de bases sólidas. Pensando sobre isso, resolvi parar e começar tudo de novo. Foi quando começou a fase que eu chamo de Renascimento.

Ainda que com chuva uma linda segunda-feira e uma gostosa semana.

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