Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Um bálsamo chamado amizade
Cada amigo alojado no lado esquerdo do peito vale muito. Tanto que a vida perderia o sentido se eles não estivessem por perto, compartilhando alegrias e atenuando tristezas. Como você verá nessa reportagem, motivos não faltam para mantermos nossas conexões sempre nutridas e ainda arriscarmos novos encontros, de preferência nos misturando a gente de toda sorte Texto • Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann
Direção de arte • Camilla Sola
O número impressiona: uma rápida busca no Google para o termo amizade rende nada mais que 18 milhões de remissões. Não é para menos: são os amigos que nos dão colo, falam aquelas verdades que temos dificuldade de contar para nós mesmas, fazem parte da nossa história, enfim, estão sempre ao nosso lado, faça chuva, faça sol, muitas vezes desde os primeiros anos de vida. Eles também servem de inspiração para livros, filmes (veja box na página 38) e letras de música -- quem não se lembra do refrão
“Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”, entoado pelo rei Roberto Carlos. Tem ainda o filme O Náufrago (2000). Nele, o personagem interpretado por Tom Hanks só consegue aplacar o desespero provocado pelo isolamento total graças a Wilson, a bola de vôlei transformada em fiel escudeiro.
E olha que o tema não é fruto das necessidades contemporâneas, em que a solidão e o isolamento dão o tom. Na Antiguidade, os filósofos dedicaram um número considerável de reflexões ao assunto, tamanha sua importância na vida cotidiana.
O romano Sêneca (4a.C.-65d.C.), por exemplo, mandou um recado a seus contemporâneos inflados pela onipotência: “Nunca a fortuna põe um homem em tal altura que não precise de um amigo”. Ao que acrescenta o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, autor de O Adolescente em Desenvolvimento (ed.Harbra): “Se pensarmos evolutivamente, a amizade faz parte do instinto de sobrevivência, porque, uma vez agrupado, o homem faz as coisas mais rápido e melhor”.
Antonio Carlos também vê a amizade como uma via de mão dupla. “Se tenho um amigo, isso significa que também sou alguém com disponibilidade para escutar e partilhar as coisas.” Mas, além de acolher, o companheiro deve se sentir à vontade para dizer o que pensa. “É preciso haver espaço na relação para expor seu ponto de vista para o outro”, ele ressalta.
Cercada de apoio, sinceridade e confiança, a engrenagem da amizade embala. É inevitável. No entanto, alguns laços são mais duradouros que outros. Há amigos que a gente fica meses e até anos sem ver e quando reencontra sente que o tempo não passou. Outros, ao contrário, se filiam à nossa vida num determinado período e depois seguem carreira solo.
“Amizade é uma questão de sintonia. Mas as pessoas se modificam e acabam perdendo essa conexão. É comum, por exemplo, reencontrar um amigo do colegial e ficar rememorando os tempos de escola. Porém, é evidente que a vida mudou para ambos e que aquela relação ficou no passado”, avalia o psicólogo.
Nada mais natural. Afinal, estar vivo é protagonizar metamorfoses em série. Logo, dependendo da etapa de vida, teremos expectativas distintas em relação ao círculo de amizades. “Quando somos jovens, o grupo ocupa um espaço muito maior. Com a chegada da maturidade e das obrigações impostas pelo trabalho e pelo casamento, há uma diminuição da interação social pela falta de tempo. Muda, portanto, a dinâmica da amizade, mas ela continua existindo”, diz a antropóloga e professora Claudia Barcellos.
Segundo a antropóloga, as relações amorosas também podem, em alguns casos, esfriar o vínculo de camaradagem, uma vez que o parceiro assume papel de ouvinte e conselheiro íntimo ou ocupa por um tempo um lugar de destaque na lista de prioridades.
“É comum amigos se afastarem quando um deles inicia uma relação amorosa. Mas é muito importante continuar estabelecendo e aprofundando os vínculos fraternais paralelamente”, enfatiza ela.
Arranjos criativos
Em dias tumultuados como os de hoje, nos quais equilibramos diversos pratos de uma só vez — família, trabalho, estudo, esportes, lazer, vida social —, cultivar os amigos, muitas vezes, passa a ser uma missão cercada de estratégias. O que não é de todo mal. Dessa necessidade, podem surgir arranjos bem interessantes, como, por exemplo, encontros semanais, quinzenais ou mensais em bares, restaurantes, sítios ou mesmo na casa das amigas. A ideia é simples, mas só funciona se todas comparecerem — não vale se esconder atrás de desculpas — e transformarem esses momentos em verdadeiros rituais.
No filme O Clube de Leitura de Jane Austen (2007), um grupo composto de cinco mulheres e um homem — sendo dois desconhecidos convidados de última hora — se encontra regularmente para discutir a obra da escritora inglesa. Longe de manterem o foco na proposta inicial, acabam trazendo à tona questões mal resolvidas de sua própria vida.
Com o passar do tempo, os laços vão se estreitando e o clube passa a ser uma rede de apoio para que seus membros superem os desafios vividos no dia a dia. Lá pelas tantas, um personagem resume a essência da trama quando diz: “Os seres humanos precisam de conexão, de companhia e de conversa”. A mentora da ação, uma mulher madura e cheia de contatos, também revela, num outro momento, a real intenção daquela confraria:“O clube do livro é um antídoto para a vida”.
Em São Paulo, sete amigas das mais diferentes áreas — da psicologia ao teatro, passando pelo direito e pela farmácia — criaram uma iniciativa semelhante, batizada de Círculo de Mulheres. Todas as sextas-feiras, há quase um ano e meio, elas se reúnem no apartamento de uma das participantes para, como dizem, resgatar o feminino sufocado por uma cidade tão masculina como a capital paulista.
A semente do projeto é exibida como uma relíquia: o livro O Milionésimo Círculo: Como Transformar a Nós Mesmas e ao Mundo (ed. Taygeta), de Jean Shinoda Bolen, um guia com as bases para quem quer fundar um grupo dessa natureza.
Juntas, elas estudam mitologia grega, especialmente as deusas do Olimpo, sentam em roda para ouvir e serem ouvidas, dançam e liberam seus sentimentos. Não é preciso respeitar regras rígidas. Todas chegam ali guiadas pelo coração e isso é suficiente. A única exigência é que usem saia. “Recuperamos as imagens das deusas e fazemos atividades corporais com o intuito de encontrar o divino que reside em nós”, explica a professora de danças orientais Fátima Fontes, incumbida de orientar os trabalhos.
Quando indagadas sobre os motivos pelos quais frequentam o grupo, apesar dos imprevistos e das dificuldades — a saber, uma vem de Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo, outra sobe dez lances de escada, pois tem medo de elevador, e uma terceira está atravessando uma separação — a resposta vem em uníssono: “Aqui, somos acolhidas sem máscaras nem julgamentos”. Fátima assina embaixo. “Criamos uma irmandade onde tudo pode ser dito e, com isso, podemos ser o que verdadeiramente somos.”
Viva a mistura!
Dizem que almas afins se atraem e passam a caminhar a par e passo, vibrando no mesmo tom. Quanto a isso, não há dúvidas. Só que o autor dessa afirmação esqueceu de mencionar o outro lado da história: a delícia de cruzar com gente diferente de nós e permitir que nossa alma se misture à delas, ganhando, assim, outras cores e temperos.
“Sou aberta a novas amizades, pois acredito que todo mundo é um amigo em potencial. Não tenho preconceitos relacionados a raça, classe social, minorias, pensamentos”, declara a publicitária Roberta Lemos Nóbrega, 25 anos.
Sorte a dela, que amplia seu repertório ao se alimentar com um coquetel constituído de diferentes conversas, opiniões, interesses e estilos de vida. “É muito bom conversar com pessoas que veem as coisas sob outros ângulos. Assim, posso absorver as opiniões de cada um e construir a minha própria”, ela diz.
Ter muitos amigos exige fôlego. Não é fácil se manter disponível e presente. Por isso, Roberta dificilmente para em casa nas horas livres. “Quando a relação é verdadeira, você a cultiva mesmo na correria. Até porque se espera que o amigo entenda nossa ausência sem fazer cobranças.”
Já que a palavra cobrança veio à baila, adentraremos, nas próximas linhas, nesse campo minado. Aquele local menos nobre habitado por sentimentos como o ciúme e a competitividade. Já que eles existem, como contorná-los sem que as bombas sejam ativadas? “É fundamental saber o que se espera e o que se pode oferecer a alguém. Antes de cobrar, precisamos lembrar que a amizade é um caminho de mão dupla.
Também é importante ter em mente que o amigo é falível, o que exige tolerância”, aconselha o professor de psicologia Antonio Carlos Amador Pereira, de São Paulo.
Para ele, a maior das decepções é constatar que um ente querido nos deu as costas. Já Roberta vê brotar conflitos quando o convívio com as amigas se intensifica. “Começa a incomodar o defeito de uma, o problema de outra”, ela confessa.
Problemas e discordâncias sempre vão existir. Afinal, conviver é uma arte que não oferece curso preparatório. Mas ainda bem que o diálogo franco continua sendo o melhor remédio para os males dos relacionamentos.
Enquanto ele existir, nossas amizades estarão a salvo. Só não há solução para os casos afetados por danos estruturais. “O que determina o fim de uma amizade não é a inveja ou o ciúme, mas a falta de reciprocidade e de confiança”, garante a antropóloga Claudia Barcellos Rezende.
Nas teias da web
Afinal, a rede mundial de computadores isola ou aproxima as pessoas? “Não vejo distinção entre uma relação cultivada na internet e outra estabelecida face a face, desde que ambas sejam permeadas por confiança, apoio, atenção mútua e intimidade”, defende Claudia, com uma ressalva. “Só é preciso redobrar a atenção no que diz respeito à confiança na hora de se estabelecer um novo amigo na rede.”
Pollyana Ferrari, doutora em comunicação social pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em arquitetura da informação e mídia social, acredita que o modelo da web atual, chamada de 2.0 e ancorada na interação, alimenta- se do dar e receber, assim como qualquer relação. “A base da rede de amigos é o compartilhamento e a troca. Pesquisas mostram que as pessoas, de uma forma geral, procuram seus pares na internet, ou seja, ninguém quer mostrar sua foto de viagem para um estranho.”
Por outro lado, ela enfatiza, a interação ediada pela tecnologia não substitui o contato. “É muito legal ter amigos na internet. Mas também precisamos ter companhia para tomar um chope. Acho triste o adolescente que está no seu apartamento conversando com outros jovens que vivem no mesmo prédio. Não podiam estar todos juntos?”, ela questiona.
A opção de se refugiar no anonimato e viver outras vidas na web existe e, sabemos, é amplamente praticada. Mas há quem prefira o oposto: usar o computador como canal de desabafo e até um meio de vencer a timidez e conseguir expressar as inquietações que, de outro modo, permaneceriam veladas. “Pode ser que este seja um campo de abertura para algumas pessoas conversarem sobre assuntos que são difíceis de serem abordados cara a cara”, pondera Pollyana. um chope.
Acho triste o adolescente que está no seu apartamento conversando com outros jovens que vivem no mesmo prédio. Não podiam estar todos juntos?”, ela questiona.De fato, há uma enorme disparidade entre o bate-papo ao vivo e o virtual. Um abraço, por exemplo, é impossível de ser reproduzido por vias digitais com a carga de emoção que lhe é devida. Se não estamos fisicamente no mesmo ambiente, também corremos o risco de nos distanciarmos da realidade.
O aspecto positivo e inquestionável da internet e das novas tecnologias é o fato de colocar o relacionamento interpessoal em primeiro plano. Por meio delas, podemos reencontrar amigos de infância, cultivar os atuais e ainda agregar novos cúmplices. “Você pode mandar uma mensagem por SMS para toda a base de amigos marcando um encontro presencial. Assim, está se apropriando de uma ferramenta tecnológica em favor do contato humano”, propõe a pesquisadora.
Ela própria fez uma grande amizade com a ajuda da internet. “Aproximei-me de um colega da área por meio de participações em fóruns, bate-papos e listas de discussão. No ano passado, ele escreveu um livro e me convidou para assinar um capítulo. Fomos nos conhecer no dia do lançamento. ”
Mas vamos com calma. Ter amigos no espaço virtual é algo bem diferente de exibir uma quantidade astronômica deles no perfil do Orkut ou do Facebook. Nesse caso, as amizades são confundidas com ostentação de popularidade e carisma. “Hoje em dia, temos pouco tempo para administrar poucos amigos.
Além disso, a interação na rede é direcionada, você fala diretamente com seu interlocutor. É necessário um cuidado quase artesanal. Dizer que tem 12 mil amigos foge completamente do sentido da amizade”, critica Pollyana.
Nesse terreno, somos todos jardineiros. Um descuido e pronto: nossas mudas perdem o viço, reclamando atenção. Por isso, sempre que puder, paparique os amigos e capriche na rega e no adubo. Assim, seu jardim, grande ou pequeno, não importa, terá a alegria que tanto precisa para florescer.
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