10 de fevereiro de 2010 | N° 16242
JOSÉ PEDRO GOULART
O homem só
As histórias se resumem basicamente no que os dramaturgos chamam de “a jornada do herói”, ou seja, a busca do personagem, com o qual nos identificamos, por algo.
O herói não é necessariamente alguém acima de qualquer suspeita. Basta que ele, ou ela, esteja determinado a obter algo que faça sentido. Nesse caso é permitido roubar um banco, matar, ou em último caso entrar para a política.
Muitas vezes os heróis se alimentam da contraposição ao sistema. De enfrentar a mediocridade reinante. Em última análise, resistir. Eles não precisam triunfar, basta que as soluções fiquem claras.
George Clooney leva a vida sem objetivos épicos em Up in the Air. No máximo quer o recorde em acúmulo de milhagem. E também divaga que a felicidade está em não ter âncoras – filhos, família, um lar.
Isso faz de Clooney um anarquista no filme? Não, ele está sempre de gravata. Um cínico talvez? Também não, o cinismo anda fora de moda, é autoindulgente. Quem sabe desespero? Descartado. Desespero denotaria alguma euforia, apontaria para um inimigo claro a ser combatido.
A falta de objetivos do herói confunde o espectador. Sem objetivos não há triunfo – a jornada perde o sentido. Dessa forma há quase uma torcida para que ele seja cooptado, como se a normalidade fosse a resposta à angústia desses tempos em que tudo parece possível, mas nada é provável.
Assim, os velhos sentimentos que pareciam perdidos afloram. O valor das coisas simples reaparece. Tudo parece ter sentido novamente – é claro, essa é a resposta, a solução.
Não tão depressa.
As velhas formas estão com defeito. E ainda não foi descoberto o antídoto para desilusão. Desilusão é o veneno mais insuportável da vida, é a epidemia do momento.
De maneira que George Clooney voa de cá para lá e de lá para cá sem causa ou rebeldia. Preso numa máquina a jato que não reduz distância, ao contrário. E está só. Como sempre estivemos. A diferença é que ele, um personagem, um representante dos nossos sonhos, agora tem consciência disso.
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