sábado, 27 de fevereiro de 2010



27 de fevereiro de 2010 | N° 16259
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A mais difícil Cavalgada Internacional

Nestes 20 anos de atividade, os Cavaleiros da Paz, que já cavalgaram até em Portugal, enfrentaram muitas dificuldades: seca, no nordeste brasileiro, inundação na Argentina e no Paraguai, chuva, vento e frio, perda de cavalo motivada por descarga elétrica, perda de cavalo por atropelamento, perna de cavaleiro quebrada em tombo. Mas esta Cavalgada do Fim do Mundo realizada na Patagônia foi para mim a mais difícil.

O desafio mais bruto. Talvez por isso mesmo o que mais me encheu de orgulho. Em caminhos que tínhamos que abrir ex novo a pata de cavalo, com os loros esticados para frente como cordas de violão na descida de abismos. Várias vezes, tive vontade de me atirar no chão e dizer: deixem-me aqui para a carniça dos condores.

Eu não aguento mais! Mas aí batia a vergonha na cara ao ver os outros 22 cavaleiros alegres e rindo e algo touro, algo que nasce da coragem que existe nos gaúchos me fazia continuar.

Os companheiros, que sabem dos meus 75 anos e das sequelas do AVC olhavam: “Aí, Nico velho, esse não se entrega nunca!”. Não se entrega: eu estava louco para me entregar, não me entregava por causa deles.

A cavalgada teve duas partes: na primeira delas, fomos de El Calafate, na fronteira com o Chile, recebendo na cara o vento frio que nos crestava o rosto e nos rachava os lábios. Elton Saldanha e Fabian Fortes disputaram uma carreira no meio da neve. Quem não levava luva não sentia as mãos.

A descida foi pior. Como disse Mermoz, quando desceu os Andes conforme a descrição de Saint Exupéry: “O que eu fiz, palavra que nenhum bicho, só um homem poderia ter feito”!

Percorremos lugares sem estradas, quase sempre com matas espinhentas de calafates e lengas, sem luz, sem celular, sem apoio, passando frio, e muitos dormindo ao relento. Também, acho que esgotamos o estoque do delicioso vinho argentino por muito tempo!

A segunda etapa foi mais curta, mas não menos dramática, desde Ushuaia até o Canal de Beagle. Eu tinha que “armar” sete novos companheiros que já reuniam condições para alcançar o título de Cavaleiro da Paz, uma cerimônia emocionante.

Cheguei aos pedaços até a beira do Canal de Beagle, amparado pelo grande Elton Saldanha, consegui abençoar, com a adaga flamejante, Caé Braga, Helder Menezes, Maurício Junqueira, Pedro Magalhães, Fabian Fortes, Aquiles Pes e Antonio Junqueira.

Eles podem se assentar conosco em pé de igualdade no círculo místico da nossa távola redonda, e já temos reconhecidos como aspirantes a serem armados cavaleiros no futuro Eduardo Fleck, Natal Seadi, João Porto, João Osório e José Giordani.

Condores com asas de poncho, os Cavaleiros da Paz foram em busca do sol nos píncaros da Cordilheira dos Andes.

Nenhum comentário: