quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010



18 de fevereiro de 2010 | N° 16250
LETICIA WIERZCHOWSKI


De outros carnavais

Não gosto de Carnaval; ou melhor, já não mais. Na minha infância, houve um tempo em que Carnaval significava ficar sentado na varanda daquele nosso vetusto chalé em Cidreira, e apreciar, na liberdade pouco usual das noites sem limite de hora para ir dormir, o desfile do Bloco do Gugu.

Era uma grande alegria ver aquela trupe se aproximando pela Avenida Mostardeiro, cantando suas musiquinhas simples, a batucada ritmada, e a seu indefectível grupo de homens vestidos de mulher. Era uma singeleza, e durava meia hora; porém a lembrança daquelas noites de fevereiro me segue até hoje, e é sempre boa.

Grávida do meu primeiro filho, assisti aos desfiles na Marquês do Sapucaí. Foi uma experiência grandiosa, mas que, honestamente, não chegou a me emocionar. O que eu mais gostei? A hora da partida, o pós-desfile, quando andávamos de um lado para outro, tentando conseguir um táxi em meio à bagunça daqueles que tinham abandonado a concentração das suas escolas, e arrastavam as suadas fantasias pelas sujas ruas adjacentes ao sambódromo carioca.

Mais do que a perfeita sincronia daquele que dizem ser o maior desfile da Terra, o que me emocionou foram as suas entranhas, a sua perfeita e quase mitológica desorganização final: anjos de largas costas e asas rasgadas aos beijos com fulgurantes espécimes da flora amazônica, feiticeiros e tigresas, leões e cortesãs, alegres grupos de deuses gregos, cintilantes medusas de roupas ínfimas, iemanjás, colibris, ondinas, serpentes e cangaceiros misturando-se como num sonho, aos beijos, risos e cantorias, e eu no meio daquilo tudo, aí sim, realmente encantada. Foi meu carnaval a la mode, e depois se acabou.

Entre meus primeiros carnavais na varanda lá de casa, e meu camarote na Sapucaí, houveram muitos outros: bailes de praia, fugazes amores e ridículas bebedeiras, muito suor e bolhas nos pés, a banda saindo do salão e tocando até a beira da praia, depois o banho de mar ao alvorecer. Longas horas de folia que se esfumaçaram para sempre na minha lembrança.

Eram os bailes do CPC, o Cidreira Praia Clube, e nos soavam simplesmente memoráveis, com todos os seus preparativos, as fantasias que bordávamos por tardes a fio, as carteirinhas falsificadas, a concentração na garagem dos amigos. Hoje em dia, nos feriados, procuro descanso, sol e uma boa leitura.

Porém, gostaria de voltar àquela varanda da minha memória e, junto com meus menininhos, acenar ainda uma vez para os integrantes do velho e para sempre bom Bloco do Gugu.

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