terça-feira, 23 de fevereiro de 2010



23 de fevereiro de 2010 | N° 16255
CLÁUDIO MORENO


Homens e mulheres

Embora eu saiba que o homem não foi feito para compreender a mulher, mas sim para viver tentando (o que, aliás, também vale para ela), recolho qualquer cena, qualquer frase que pareça acrescentar alguma pincelada neste quadro eternamente incompleto. Que o leitor tire suas conclusões dos três exemplos que seguem.

1) No seu tratado sobre a alma humana, Plutarco refere uma estranha e trágica epidemia que se abateu, certa feita, sobre as jovens de Mileto. Sem qualquer motivo aparente, impelidas por um instinto sombrio, todas elas começaram a atentar contra a própria vida.

Antes que as famílias percebessem o que estava ocorrendo e tomassem providências para impedi-las, muitas chegaram a se enforcar – essa era a forma que as mulheres de antigamente, em seu desespero, escolhiam para morrer.

Nem súplicas, nem promessas, nada conseguia convencê-las a desistir desta loucura. Bem ao contrário: dedicavam todo o seu tempo a procurar formas de burlar a vigilância constante dos familiares, a fim de tentar, outra vez, destruir a si mesmas na flor de sua juventude.

Mesmo os mais sábios habitantes de Mileto se declararam impotentes diante dessa doença funesta, inexplicável, talvez enviada por algum deus que a cidade tivesse ofendido sem querer.

O pesadelo só terminou quando uma mulher – e quem mais? – sugeriu uma lei, aprovada por unanimidade, determinando que toda jovem que se matasse teria seu corpo exibido em longo cortejo pelas ruas, completamente despido, arrastado pela própria corda que tinha usado para morrer. A partir daquele dia, diz Plutarco, tão misteriosamente como tinham começado, cessaram completamente os suicídios.

2) Afrodite, deusa do amor sensual, conhecia como ninguém o eterno poder da mulher. Sem saber por onde andava Pisquê, sua futura nora – com a qual, como toda sogra, tinha contas para acertar -, mandou anunciar que aquele que trouxesse alguma informação sobre o paradeiro da moça ganharia da deusa, como prêmio, “sete beijos na boca, e mais um, mais demorado, em que ela o deixaria provar o toque suave de sua linguinha travessa”. Essas palavras, diz Apuleio, deixaram os homens com olhos sonhadores – como deixam até hoje.

3) Em 1769, o ingênuo G. Lichtenberg, filósofo e matemático alemão, desabafa em seu diário: “Quando se anunciou que Vênus devia passar diante do Sol na tarde de 3 de junho, fizemos todos os preparativos necessários para observar o fenômeno, e, com efeito, vimos o planeta aparecer na hora exata; mas quando se anunciou que no dia 8 de julho a princesa da Prússia deveria passar diante de Gottingen, ficamos esperando até a meia-noite – e ela só foi chegar no dia seguinte, às dez horas da manhã!”.

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