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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
08 de fevereiro de 2010 | N° 16240
PAULO SANT’ANA
O avanço do crack
Não é só em Maceió que há as imagens de santos despedaçadas num altar da Escola Benício Dantas, nem é só lá que há essa escola invadida várias vezes e com salas, pavilhões, corredores e banheiros destruídos.
Há registros de tiroteios na escola, o ginásio de esportes virou uma cracolândia e os alunos fumam maconha na sala de aula.
Não é só lá que dados do Ministério Público Estadual indicam que 30% dos alunos das escolas da rede pública, entre 10 e 20 anos, estão envolvidos com o tráfico ou viraram viciados.
Os dados oficiais mais recentes revelam, segundo o jornal O Globo afirmou ontem, que essa tragédia se repete em outras cidades e capitais brasileiras.
Ora, se a droga se dissemina entre os órgãos de ensino, que deveriam ser a última cidadela contra os vícios e contra o crime, imaginem como está o resto do tecido social brasileiro.
Em todo o país, os serviços de atendimento a dependentes químicos veem cada vez mais aumentar a procura de viciados por um tratamento.
Se, em 2002, 200 quilos de crack foram apreendidos, já em 2007 houve a apreensão de 578 quilos da droga no Brasil, revelando que há um aumento expressivo da circulação do crack no território nacional.
Em março de 2007, publica um estudo carioca, só 15% de entrevistados de uma pesquisa usavam o crack. Em junho de 2008 esse percentual subiu para 25%.
Em Salvador, em 2006, só 26% dos novos usuários de drogas atendidos pelos serviços sociais eram consumidores de crack. O número subiu para 37,8% em 2008.
Uma pesquisa de amostra realizada com pacientes internados por dependência química em Porto Alegre revelou que 43% dos que estavam ali era por conta do crack.
Isso se deu porque os drogados que injetavam cocaína em seus corpos, em face do HIV, fugiram daquela prática e se transferiram para o crack.
O professor Félix Henrique Kessler, da UFRGS é taxativo:
– Quase todos os usuários de cocaína injetável migraram para o crack.
A população de rua da cidade de São Paulo é estimada em 11 mil pessoas, a maioria vivendo sob viadutos e nas ruas do centro. A prefeitura calcula que 25% deles sejam dependentes químicos.
Uma médica paulista que trata do problema faz uma revelação interessante:
– O crack é muito usado, mas o maior problema desses moradores é o álcool. O álcool funciona como uma porta de entrada para as outras drogas.
Notem aí os leitores desta coluna que a droga-base para o espalhamento de viciados é o álcool, uma droga lícita e propagandeada livremente, tanto que, para surpresa geral, o treinador Dunga, da Seleção Brasileira, aparece na televisão num comercial de cerveja.
Com tal capacidade de mercado entre os marginais, maior ainda entre as pessoas bem situadas economicamente, como não atrair para o abastecimento e comércio de drogas os traficantes?
Traficante só existe porque tem para quem vender a droga.
E, quando surgem os traficantes, emerge entre eles o crime e as mortes se sucedem no seu meio como também com usuários que se jogam a assaltos e assassinatos até mesmo contra crianças, como aconteceu com diversas na semana que passou aqui no RS, com crueldade ímpar.
O caminho é só um: campanhas contra o uso de drogas.
Mas e o álcool?
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