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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
16 de fevereiro de 2010 | N° 16248
PAULO SANT’ANA
Ciúme tresloucado
Um dos mais longos cárceres privados com acompanhamento da polícia estava se desenrolando ontem à tarde, no horário em que escrevo, no bairro Guajuviras, em Canoas.
Eram decorridas 65 horas de cativeiro da mulher do autor do delito, não sei se houve desfecho horas depois, mas impressiona vivamente a resistência do sequestrador.
Da mulher não, que deve estar com os nervos em frangalhos, mas ela não tem a obrigação de resistir à ação da polícia, encargo recaído sobre o ex-marido, que é obrigado a vigiar a casa para impedir a invasão policial.
O dramático cárcere privado era acompanhado ontem por toda a imprensa nacional.
Segundo foi noticiado, o sequestrador da ex-mulher ergueu barricadas diante da porta e das janelas da casa, com isso se acautelando de uma ação policial que até ontem não acontecera.
Como em tudo na vida, aguarda-se o resultado. Se for feliz, sobrevivendo o sequestrador e a ex-mulher, todos dirão que a ação da polícia foi correta.
Se não for feliz o desfecho, não faltarão vozes para dizer que a polícia errou em contemporizar com o criminoso, que devia ter invadido a casa etc.
Pois eu quero dar minha opinião antes do desfecho: esteve certa a polícia em não desligar a água e a luz da casa onde está o casal e também em fornecer comida para eles, aguardando que pelo cansaço o sequestrador se entregasse vivo com sua cativa.
Existem dois motivos concorrentes para aprovar a ação policial: o primeiro é filosófico, compete à polícia, assim como à medicina, salvar vidas e não destruí-las.
É preciso que se tenha em mente que o perigo que corria a mulher, enquanto se desenrolava o drama do não desfecho, era virtual, não iminente, embora o homem estivesse armado e já fizera disparo contra um cunhado que fugiu.
Tudo então tinha de fazer a polícia para preservar as duas vidas que estavam sob sua custódia, contando com o tempo para levar o sequestrador à exaustão.
O que impressiona é que por quase 72 horas, aparentemente, o sequestrador não dormiu: diziam que, por ser vigilante, estava acostumado a longas horas de vigília. Mesmo assim, três dias sem dormir está além das forças humanas, a menos de que tenha cochilado esparsamente, depois que se assegurou que a tática da polícia era a contemporização.
O segundo motivo por que cabia à polícia esperar o desenvolvimento dos fatos na esperança de uma negociação favorável é que afirmam os psiquiatras criminais que os sequestradores passionais são imprevisíveis.
A qualquer momento o homem poderia resistir violentamente à invasão ou a uma ameaça ou a possibilidade dela, matando a mulher e talvez suicidando-se, mesmo diante somente da hipótese de que seria atacado. Uma delicadeza.
Cabia à polícia, então, o que ela fez: convencer o sequestrador que não era intenção das forças policiais invadir a casa, incutindo-lhe a confiança de que a casa não seria atacada.
Estou, pois, como esteve toda a opinião pública até a hora em que escrevo, torcendo para que tudo termine bem nesta interminável série de agressões de homens a mulheres que os abandonaram.
Não há dia que o noticiário policial passe sem o registro desses casos.
Não há outra coisa que fazer senão declarar a Unidos da Tijuca campeã do carnaval do Rio de Janeiro depois do seu inesquecível desfile da Comissão de Frente.
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