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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
09 de fevereiro de 2010 | N° 16241
CLÁUDIO MORENO
Nós, as formigas
Durante muito tempo o homem pensou que era o centro do universo. Para os antigos, que viviam nessa confortável ilusão, o firmamento estrelado cobria nosso mundo como um manto protetor, e o Sol era um grande astro domesticado que vinha todos os dias nos banhar de vida e de luz.
Em Roma, Plínio apenas lastima que nosso ouvido terreno não consiga captar a música que os planetas produzem ao se mover nas alturas; daqui de baixo, diz ele, o mundo desliza em silêncio, tanto de noite quanto de dia.
O avanço da ciência, contudo, veio abalar essa falsa sensação de importância. Primeiro, foi Copérnico, a nos ensinar que o universo não tem centro, e que a nossa Terra é apenas um entre os vários planetas que giram em torno do Sol, que é uma entre os 200 bilhões de outras estrelas da Via Láctea, que é uma entre os cem bilhões de outras galáxias que cintilam no universo... Segundo Freud, esse foi o primeiro dos três grandes golpes que a ciência infligiu em nosso narcisismo.
Se éramos um nada diante do cosmos, restava ao menos o consolo de ser os reis da criação, muito superiores aos demais seres vivos; atribuímos a nós mesmos uma alma imortal, proclamamos nossa descendência divina e cavamos um abismo entre nossa natureza e a deles.
Coube a Darwin desfazer essa ilusão: biologicamente, somos como os outros animais, mais próximos de algumas espécies, mais distantes de outras – nada mais do que isso. Era o segundo abalo, mas não o derradeiro. Este veio com Freud, ao descobrir que não somos senhores nem mesmo em nossa própria casa, pois é o inconsciente, e não a razão, quem comanda grande parte de nossa vida mental.
Tendo perdido, desta forma, o cetro, o trono e a coroa, muitos aprenderam a lição e ficaram intelectualmente mais humildes, dispostos a repensar os limites da condição humana. Outros, porém, movidos por esta inconsciente vaidade da espécie, encontraram uma nova maneira de preservar a velha ilusão de importância, atribuindo-se o poder apocalíptico de influir, como uma divindade maligna, no próprio clima do planeta! Mas é muita pretensão desta formiga pensante!
A ação humana pode tornar o meio-ambiente insuportável para nós, poluir o ar, sujar a água e ameaçar outras espécies – em outras palavras, a ação do homem pode vir a ser fatal para o próprio homem.
O planeta, no entanto, não sofre sequer um arranhão com esses despropósitos; ele esfria ou esquenta quando o Sol quer, ou o oceano, ou os vulcões – como vem acontecendo há bilhões de anos.
A natureza já era imensuravelmente velha quando chegamos aqui; ela não sabia que viríamos, nem saberá quando formos embora – e nem vai se importar se isso um dia acontecer. Indiferente, a Terra vai seguir seu curso silencioso pelo espaço infinito.
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