sábado, 13 de fevereiro de 2010



14 de fevereiro de 2010 | N° 16246
PAULO SANT’ANA


Nós perdemos a graça

Um amigo da minha idade me chamou a um canto e disse: “Pablo, no nosso tempo a noite era linda. Não faltavam lugares onde se pudesse ouvir uma seresta ou um bom samba, os bandolins, os banjos, os violões, e os cavaquinhos encantavam os nossos encontros, havia uma poesia superior nos versos e uma encantadora harmonia nas melodias.

Aquilo sim é que era tempo, aquilo sim é que era noite, hoje não existe mais isto. Não existe mais graça na noite”.

Olhei-o demoradamente e disse-lhe que estava completamente enganado, não era a noite que tinha perdido a graça, nós é que perdemos a graça.

Observando bem, as pessoas se divertem a valer na noite de hoje. Quando que um evento musical iria atrair dezenas de milhares de pessoas como faz hoje o Planeta Atlântida? Quando? Nada havia naquele tempo que se comparasse ao Planeta Atlântida.

E, olhando bem na cidade, você vai observar que existem centenas de boquinhas onde se faz música de qualidade, onde se dança, onde se namora, onde se bebe e se come com alento.

Não foi a noite que mudou, nós é que mudamos.

Verdade que o carnaval mudou. Não existem mais nas cidades os bailes do Dinamite e do Panamirim.

Não existem mais na cidade os bailes de carnaval da Cabana do Turquinho.

Não existem mais na cidade os bailes do Mil e Uma Noites em Assunção. Não existem mais na cidade os bailes de carnaval do Clube do Professor Gaúcho, em Ipanema. Nem existem mais os bailes de carnaval da Sogipa e do União.

Não existem mais na cidade os espetaculares bailes de carnaval do Teresópolis Tênis Clube, que faziam a existência da gente se dividir entre o baile deste ano e, findo ele, a expectativa pelo baile do ano que vem.

A diferença talvez só seja a dos bailes de carnaval, mas é uma baita diferença.

É grande a diferença, mas é só no Carnaval. Aqueles bailes de carnaval de antigamente eram os locais em que se praticava a alegria, a verdadeira alegria, a legítima felicidade, dos sons, das cores, das fantasias, das marchinhas e dos sambas, a vida estuante de sorrisos, dos cantos, as vozes, os flertes, os encontros, os romances, as manhãs extenuadas das saídas dos bailes, a consciência do dever cumprido e a sensação de que no ano que vem haveria tudo de se repetir maravilhosamente.

Guardo ainda bem guardada a serpentina

Que ela jogou

Ela era uma linda colombina

E eu um pobre pierrô!

Guardei a serpentina

Que ela me atirou

Brinquei com a colombina

Até as sete da manhã

Chorei quando ela disse

Vou me embora, até amanhã,

Pierrô, até amanhã!

Isso não existe mais, existia naquele tempo. No mais tudo é igual ou hoje é superior a antigamente.

Tudo tem seu tempo certo.

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