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sábado, 13 de fevereiro de 2010
13 de fevereiro de 2010 | N° 16245
PAULO SANT’ANA
As algemas
Vejam este caso do governador de Brasília José Roberto Arruda, pediu licenciamento do cargo por ter sido preso pelo Superior Tribunal de Justiça.
Foi decretada a sua prisão e ele não poderia fugir. Mas tinha de ser materializada a prisão, a Polícia Federal tinha de efetuá-la.
Ele pronto correu a telefonar para o diretor-geral da Polícia Federal e negociar a forma como iria para a prisão, sem as surpresas de ter de ser apanhado pela polícia e levado até a prisão.
Negociou da seguinte forma: ele se entregaria no prédio da Polícia Federal e se livraria da suprema humilhação: as algemas.
Tudo, menos as algemas, pensou Arruda. E assim foi feito.
Este homem estava disposto a tudo que o destino aprouvera. Foi destituído do cargo de governador, estava numa hora investido da função eletiva, despachando no palácio, em poucos segundos a sua vida mudaria para uma tragédia: tinha sido decretada a sua prisão.
Ele teria de suportar esta queda vertiginosa da existência de maneira estoica: de governador para detento, tudo se passou de forma rápida, um turbilhão de pesadelos passou por sua cabeça.
Mas teria de enfrentar a vida, a prisão, o processo, a execração.
Dispôs-se a tudo isso, só não se dispôs a uma coisa: as algemas.
Tudo, menos as algemas.
Foi tão grande, meses atrás, a polêmica sobre o uso de algemas em presos importantes, houve reação de alguns presos, houve justificativas candentes da Polícia Federal para usar as algemas, que chego a uma conclusão: a pena máxima em matéria penal entre nós não são os 30 anos de prisão, o teto de punição para cada cidadão. A pena máxima, segundo concluí, são as algemas.
As algemas com fotos nos jornais e imagens na televisão são o castigo mais temido pelos presos ilustres.
Daí que o governador Arruda negociou com a Polícia Federal não lhe fossem aplicadas algemas, o próprio presidente Lula se empenhou elogiavelmente no sentido de que Arruda não fosse humilhado pelas algemas.
As algemas carregam um tal grau de opróbio que muitas vezes se vê na televisão ou em fotografias de jornais os presos sendo conduzidos para a prisão, algemados, mas com um pano qualquer ou um papel sobre as algemas para esconder aquele equipamento policial dos olhos dos outros. E isso às vezes é cometido por presos não ilustres, por bandidos quaisquer, que incrivelmente pensam que só são destituídos de dignidade se forem vistos algemados.
Tanto é verdade isso que a definição de algema no dicionário deveria ser somente a de instrumento de ferro com que se prendem os braços pelos pulsos. Ou então como grilheta ou cadeia.
Mas não, está lá no dicionário o sentido figurado da palavra algema: coação, coerção, agressão.
O dicionário considera até como agressão as algemas, daí que os presos suportam todo e qualquer tratamento, querem apenas evitar as algemas.
Daí que o ex-governador Arruda está pronto para enfrentar todo um drama para responder às acusações de que é alvo, mas deve estar pelo menos minimamente consolado porque não foram publicadas fotos suas na prisão ou a caminho dela, mas principalmente porque ele não foi visto algemado.
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