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sábado, 6 de fevereiro de 2010
07 de fevereiro de 2010 | N° 16239
PAULO SANT’ANA
Bonita de corpo
Eu sou invocado com esta expressão: “Tudo bem?”. É a expressão mais usada entre as pessoas que se encontram.
– Tudo bem?
– Tudo bem.
Pode até não estar tudo bem, mas responde-se que está tudo bem.
Comigo se dá diferente, sinto que sou chato, mas não consigo responder que está tudo bem se não está tudo bem.
– Tudo bem?
– Não. Está tudo mal!
– Ué, mas o que há?
A pessoa que ouve que não está tudo bem se choca. Ela esperava ouvir a resposta de que está tudo bem.
Como não ouve a resposta esperada, insiste em saber o que é que há então.
Ora bolas, não está tudo bem e pronto. Como é que quando se responde que está tudo bem não exige o perguntador um relato de tudo que vai bem?
Agora que ouviu que não está tudo bem, calcula então que algo não vai bem.
Eu só não respondo que “está tudo mal” porque o perguntador vai querer saber “tim-tim por tim-tim” o que vai mal.
E seria exaustivo arrolar tudo que vai mal.
Comigo parece que as pessoas que perguntam se vai tudo bem já calculam que vou responder diferente: “Não vai tudo bem”. Não é isso que acontece, mas a mim parece que elas estão torcendo para que tudo não vá bem para que a conversa se espiche.
Porque não há algo mais frustrante num diálogo do que alguém perguntar se tudo vai bem e o outro responder que tudo está bem: então não há mais assunto, nada mais há para tratar, está encerrada a conversa.
Dizer que está tudo bem, me ocorre agora, é uma forma de se despedir da pessoa que perguntou, apressando o encerramento do assunto.
E, por outro lado, responder que está tudo mal dá sempre num espichamento da conversa, o respondedor relatando os seus males e o perguntador tentando consolá-lo ao dizer que tudo se resolve, paciência, em seguida as coisas vão para seus lugares.
Mas eu sinto que sou rigoroso demais ao negar que está tudo bem, era só uma formalidade o que queria saber o outro, enquanto eu desvio a conversa para um “tudo mal” que não estava na programação daquele encontro.
Desde criança, ouço uma expressão que, apesar de gasta, dura até os tempos de hoje: “Fulana é bonita de corpo”.
Este “fulana é bonita de corpo” me soa que ela não é bonita de rosto.
Já o “fulana é bonita de rosto” declara solenemente que ela tem um corpo que deixa muito a desejar.
Isso me faz pensar que, quando a mulher é bonita de corpo e de rosto, a expressão é somente a de que ela é bonita.
E bonita não é a mesma coisa do que bela. Quando se diz que uma mulher é bela, está se dizendo que ela, mais do que bonita, é bela..., o que são outros quinhentos.
Porque raramente ouço algum homem dizer que “fulana é bonita de rosto e de corpo”. Nesse caso, “a fulana é estonteante”.
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