sábado, 20 de fevereiro de 2010



20 de fevereiro de 2010 | N° 16252
PAULO SANT’ANA


Outra Mega Sena!

Corre hoje uma Mega Sena ao redor dos R$ 60 milhões. Fui a duas agências lotéricas ontem e elas estavam abarrotadas de gente.

Esta confiança que as multidões têm de ganhar o grande prêmio é uma das provas de que este jogo é honesto, seguidamente surgem hipóteses não embasadas de que o jogo não é sério, mas se dissolvem na poeira da crendice popular.

A Mega Sena serve, quanto menos, para alimentar o sonho. É a única maneira que uma pessoa tem para melhorar a sua vida, teoricamente.

Que outro jeito se daria para comprar um apartamento que ocupa todo um andar, uma grande cabana num condomínio de praia, carros finos de último tipo para toda a família e viajar pelo mundo sem ter de contar tostões nas estadias?

Que outro jeito há para dar a cada um dos parentes um apartamento novo, ficar bem com todo mundo da família e ainda por cima descolar algum para um amigo qualquer? Que outro jeito?

As 50 milhões de apostas da Mega Sena de hoje carregam a esperança de cada um dos seus apostadores, que se acotovelam nas filas.

Tanto que vão se passando os anos e as pessoas, envoltas em suas dificuldades, nutrem no entanto um consolo:

– Não faz mal, um dia eu ganho a Mega Sena.

A única experiência que tenho em grande prêmio deu-se não comigo, mas com meu amigo José Antônio Ribeiro, o Gaguinho, já falecido, mas que ganhou há uns 20 anos o primeiro prêmio da Quina.

Ele morava em Florianópolis, tinha sido demitido de seu emprego, sentou-se na cadeira de balanço da sala e ficou vendo televisão.

Dali a pouco deram no vídeo e no som o resultado da Quina.

Ele pensou: “Espera aí, mas estes são os meus números!” E saiu a procurar nervosamente, possuído de intensa emoção, a cartela premiada.

Achou-a, conferiu e estavam ali realmente os cinco números mágicos da sorte, ele ficara milionário. Para um desempregado, nada mais empolgante.

Eu fiquei tão contente e emocionado que peguei o Gaguinho e fui dando ideias a ele de como aplicar o dinheiro. Ele ouviu atentamente todos os meus conselhos, e não seguiu nenhum. A gente tem a mania de meter-se na vida dos outros quando eles são bem-sucedidos. É uma forma de sonhar também, ganhar na sorte grande é um sonho para milhões, que só é atingido por raros sortudos.

A exemplo do que também se crê, o Gaguinho atrapalhou-se todo para empregar a fortuna que ganhara. Comprou uma casa numa praia paradisíaca de Florianópolis e realizou o seu grande sonho que era adquirir uma grande, possante camioneta.

E logo o dinheiro do Gaguinho evaporou-se, mas ele foi feliz durante uns dois anos, até que morreu.

Tenho saudade imensa do Gaguinho e espiritualmente fui ganhador junto com ele daquela bolada.

Ali estão as filas dos apostadores da Mega Sena. Eu tenho a impressão que os governos estimulam estes grandes prêmios para mexer com o imaginário popular e não deixar que as pessoas se tornem perigosas ao não nutrirem qualquer esperança de melhora social.

O fato é que, até a hora do sorteio, todos nos tornamos virtualmente felizes, na espera de que sejamos premiados. Vai se ver o resultado e se nota que desta vez não fomos nós que ganhamos. O felizardo foi um outro qualquer, anônimo, desconhecido, o grande prêmio parece-nos distante e impossível.

Mas daqui a duas ou três semanas estamos outras vezes nas filas imensas, apostando na Mega Sena.

Para manter-se vivo é preciso também manter acesa a chama da esperança.

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