terça-feira, 9 de fevereiro de 2010



09 de fevereiro de 2010 | N° 16241
PAULO SANT’ANA


Dois palanques

O prefeito José Fogaça está literalmente numa camisa de força: se, como candidato ao Piratini, vier a apoiar a candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República, seguindo orientação nacional do seu partido, o PMDB, teremos um extravagante quadro eleitoral no Rio Grande do Sul.

Dilma Rousseff teria de subir no palanque de Fogaça, dar uma voltinha na praça e ir ali adiante e subir também no palanque de Tarso Genro, outro candidato ao governo do Estado.

Será que alguma vez isso já aconteceu na política gaúcha? Acho que não. Essa teia de acordos regionais e nacionais serve para deixar destrambelhada a compreensão do eleitorado.

Duas coisas parecem certas: o PMDB nacional vai apoiar a candidatura de Dilma, tanto que o presidente do partido, Michel Temer, diz que a unidade na sigla está em torno de 93%.

E o PDT apoiará Fogaça aqui no Sul, o mesmo PDT também inclinado a apoiar Dilma no plano nacional.

Fogaça teria então força moral para não seguir os dois maiores partidos que patrocinam sua candidatura? Como poderia tirar da cartola, numa prestidigitação inexplicável, o seu apoio a José Serra, candidato cuja aliança partidária nada tem a ver com a candidatura dele, Fogaça?

Se por um lado essa pressão desfavorece Fogaça, por outro o apoio dele a Dilma deixará a candidata do PT atrapalhada: como ela irá fazer para subir ao mesmo tempo nos palanques de Tarso Genro e de Fogaça aqui no Sul?

Eticamente, Dilma e Lula teriam de ficar neutros na campanha ao governo do Estado, deixando Tarso Genro abandonado à própria sorte.

Caso contrário, assistiríamos a um espetáculo surrealista: Dilma subindo aqui no RS nos dois palanques, algo que soaria inexplicável para o eleitorado.

Está assim o xadrez político para as eleições de outubro: de um lado, o trator da aliança entre os partidos que apoiam Lula amassando seus adversários e confundindo e emperrando as alianças regionais; de outro, a surpreendente reviravolta na sucessão nacional, com a discrição estratégica de Serra em lançar a sua candidatura e Dilma assumindo uma visibilidade impressionante, hoje ela já é perante o eleitorado mais candidata do que Serra no plano do marketing eleitoral.

Claro que isso se deve a um Serra afogado nas enchentes de São Paulo, quadro de tragédias climáticas que inibe o governador a botar o seu bloco na rua.

Resta só saber se será bipolarizado o quadro sucessório gaúcho ou a governadora Yeda Crusius terá força para ambivaler-se a Fogaça e Tarso no espectro da preferência dos gaúchos.

Aparentemente, Lula conseguirá atrair sua popularidade para a transferência do prestígio dele para Dilma.

O presidente tem dado as cartas e jogado de mão na condução da campanha sucessória, dado o desaparecimento do PSDB da ribalta da eleição, vazio este que chega a ponto de transformar o ex-presidente Fernando Henrique em maior e único ás oposicionista, com tímidos e não abrangentes artigos nos jornais mais importantes.

Chama a atenção, em favor de Lula e de Dilma, a letargia dos tucanos, nem parece que estão decidindo a partilha do poder e sob o risco, para eles, de o PT governar o país durante 16 anos consecutivos.

Em segunda edição, já está distribuído nas livrarias o livro O Sentimento de Culpa, de autoria de Paulo Sergio Guedes e Julio Cesar Walz.

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