sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010


Jaime Cimenti

Delicado equilíbrio entre amizade, amor, perda e dor

Os telhados de Teerã, de Mahbod Seraji é, acima de tudo, um romance de iniciação, que aponta para os primeiros passos de um grupo de jovens sintonizados com a necessidade de transformação e construção de um mundo mais humano.

Mahbod nasceu no Irã e mudou-se para os Estados Unidos em 1976, aos 19 anos. Estudou na Universidade de Iowa, onde graduou-se em cinema e televisão e doutorou-se em desenho e tecnologia. Atualmente o escritor mora em São Francisco e Os telhados de Teerã é seu romance de estreia. Em Teerã é muito comum, no verão, dormir no telhado.

O calor seco do dia resfria após a meia-noite, e quem fica lá em cima acorda com os primeiros raios de sol na face e com o ar fresco nos pulmões. No telhado, os adolescentes Pasha e Ahmed, amigos inseparáveis, observam o mundo e as pessoas ao redor. Do alto, Pasha consegue ver e admirar Zari, sua vizinha, uma jovem já prometida para casamento.

Esse é o ponto da partida da narrativa que se desenvolve revelando os sentimentos e as descobertas dos adolescentes e seus primeiros vislumbres sobre o amor, mas também o contato com a dor, a repressão, a morte e as perdas.

Numa determinada noite, Pasha presencia, enquanto contava as estrelas e dava a cada uma no nome de seus entes queridos, uma cena inesquecível. O Doutor, futuro marido de sua amada Zari, é levado pela Savak, o serviço secreto a serviço da ditadura iraniana. Apesar de nada poder fazer para impedir aquela arbitrariedade, o jovem se culpa pelo acontecimento.

A repressão política que ronda o ambiente por causa da ditadura do Xá Mohammad Reza Pahlevi é o fio condutor de uma história que também aponta as sutilezas e contradições da sociedade iraniana: a tradição se opõe à modernidade emergente, a religiosidade e a fé se antagonizam com os sentimentoa à flor da pele de um povo que tem na libertação do regime um ideal a ser conquistado.

A narrativa é trágica, mas não desprovida de humor. Os diálogos bem construídos, por vezes leves, por vezes tensos, ressaltam a importância da compaixão e da generosidade.

Dialogando e citando autores como Dostoievski, Emile Zola e Jack London, o autor sinaliza que boas ações são fundamentais numa sociedade contaminada por medos e incertezas.

Em síntese, uma ótima estreia literária, numa narrativa que trabalha bem com o delicado equilíbrio entre amizade, amor, perda e dor, numa história de amadurecimento e transformação.

Editora Rocco, 382 páginas, R$ 54,00, tradução de Antônio F. de Moura Filho, rocco@rocco.com.br.

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