sábado, 6 de fevereiro de 2010



07 de fevereiro de 2010 | N° 16239
MARTHA MEDEIROS


Os best-sellers

O fato de um livro vender muito ou pouco não desperta em mim nem curiosidade, nem desprezo

Um leitor me pergunta se a lista de livros mais vendidos influencia minhas escolhas.

Já que é tempo de férias, quando temos mais predisposição para ler, vale a pena amplificar esse assunto. O fato de um livro vender muito ou vender pouco não desperta em mim nem curiosidade, nem desprezo. Não é a lista de mais vendidos que determina as minhas escolhas, e não deveria determinar as escolhas de ninguém.

Um livro pode virar best-seller por haver uma grande fidelização ao autor, independentemente do título que ele esteja lançando. Ou então porque há um filme ou uma série de tevê inspirada no livro e isso alavanca as vendas. Ou porque o investimento em propaganda foi forte. Ou porque o livro traz um tema polêmico. Ou porque é uma obra póstuma de um autor importante.

Ou porque o boca-a-boca fez sua parte. Ou, claro, porque o livro é mesmo sensacional. Enfim, há muitas razões, nem todas literárias, para um livro estar entre os mais vendidos, e não se pode esquecer que inúmeras obras excelentes nunca chegaram a vender mais do que mil exemplares, o que descredibiliza as listas como indicadores soberanos de boa leitura.

O melhor método para se escolher um livro é através da informação. Você pode até ter sabido da existência de um livro através de uma lista, mas não deve comprá-lo apenas por essa razão, a não ser que não dê valor ao seu dinheiro. Primeiro, pesquise sobre o autor, se ele lhe for estranho.

Descubra seu estilo, o que ele já escreveu, que temas costuma abordar, o que já se disse sobre ele. O Google está aí para isso. Já dentro de uma livraria, pegue o livro, leia a orelha, o prefácio, um pouco do primeiro capítulo – as livrarias hoje têm poltronas e sofás pra esse fim: refestele-se. Ninguém vai obrigá-lo a efetuar a compra.

Dê atenção aos suplementos culturais dos jornais. Leia a Revista Bravo, que traz tudo sobre música, teatro, cinema, artes plásticas e, claro, literatura, e assine o mais importante jornal literário do Brasil, o Rascunho. E o mais importante: escute a opinião de pessoas a quem você dá crédito. Um bom fornecedor de dicas é fundamental.

O Comer, Rezar, Amar, da Elizabeth Gilbert, achei uma delícia de leitura. Gilbert é alguma Jane Austen? Nem perto, mas o livro é agradável, divertido e caiu nas minhas mãos numa época em que a história dela me desceu bem. Por outro lado, nunca li nem vou ler A Menina que Roubava Livros, mesmo tanta gente tendo elogiado. Outro fator a ser considerado: implicância. Não deixa de ser um método de seleção também.

Ser popular não é pecado. Há os populares excelentes e os populares medíocres, assim como há os clássicos sensacionais e os clássicos chatonildos. Quem decreta isso? Sua majestade, o leitor.

Do que se conclui: leia best-sellers, leia livros malditos, leia livros que todo mundo está comentando e também aqueles de que ninguém nunca ouviu falar, leia o que alguém antenado recomendou, leia o livro que você descobriu sozinho num sebo, leia o livro cuja capa deixou você fascinado, leia o que sua professora exigiu, leia o que a sua namorada implorou pra você ler,

mesmo ela sendo fã de água-com-açúcar (não custa agradar a guria, depois você dá o troco com dignidade, recomendando a ela um Rubem Fonseca), releia o que você leu 15 anos atrás e amou, releia o que você leu 15 anos atrás e odiou (se todos diziam que era genial, dê uma nova chance ao livro, talvez 15 anos atrás você não estivesse pronto para textos bombásticos),

leia os livros até o fim, abandone-os no meio se forem uma xaropice, leia livros de suspense, eróticos, policiais, poemas, biografias, mas leia.

Estou no momento lendo pela primeira vez um japonês chamado Haruki Murakami, mas não comecei pelo livro certo, dois ou três amigos já me disseram que há outros títulos do autor que são bem melhores. É assim que funciona. Uma lista confiável de best friends é tudo de que se precisa.

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