sábado, 27 de fevereiro de 2010



27 de fevereiro de 2010 | N° 16259
PAULO SANT’ANA


E os lotéricos honestos?

Eu me preocupo com esta enchente de notícias no caso do bolão de Novo Hamburgo por um aspecto: o que devem estar sentindo, sofrendo e pensando os donos de agências lotéricas honestos, que cumprem suas obrigações e que até podem organizar bolões, mas o fazem de forma correta, registrando-os no terminal da Caixa Econômica e atendendo solícita, idônea e prestimosamente seus clientes?

Como estão essas pessoas? A imprensa tem uma força muito grande, mas muitas vezes não se sensibiliza com todo o campo que atinge. Para os proprietários decentes de lotéricas, a notícia foi um desastre.

Tentando atenuar esse drama é que publico hoje uma carta que me foi enviada por um dono de lotérica:

“Bom dia, Paulo Sant’Ana. Eu também, como milhares de gaúchos, sou leitor assíduo de tua coluna há vários anos, e como este assunto é de meu interesse particular, pelo fato de ser proprietário de uma agência lotérica em Porto Alegre, resolvi te escrever.

Sou revendedor lotérico desde maio de 1989, portanto há mais de 20 anos, sempre na Avenida Wenceslau Escobar, no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre.

Tenho, por isso, plena consciência para opinar sobre o assunto: os bolões de qualquer jogo realizados em nossos estabelecimentos são desde o início das atividades de revenda de jogos oficiais praticados e de grande procura e solicitação dos clientes. É uma modalidade que permite a pessoas de poder aquisitivo menor participar de jogos com maior quantidade de números, que lhes darão maiores chances ou possibilidades de ganhar com um investimento pequeno, dentro de suas posses.

Outros casos também existem, de pessoas com poder aquisitivo grande que se unem e procuram uma lotérica, investindo altas somas quando os acumulados são de grande monta. Portanto, é uma prática usual e amplamente aceita entre os apostadores, o que diferencia é a maneira como esses bolões são montados.

Eu, na minha experiência, desde que houve a troca de sistema de apostas pela Caixa Federal, que permitiu que um jogo de grande quantidade de números pudesse ser feito em somente um comprovante de aposta, passei a anexar este recibo em forma de cópia xerox junto com o comprovante que é entregue para cada cliente e nunca fiz esses bolões para mais de 10 participantes.

E mais: eu mesmo, como proprietário e responsável pelo negócio lotérico, é que cuido, confiro e guardo no cofre o recibo original junto com a relação dos compradores, todos com telefone para posterior identificação.

Portanto Sant’Ana, após ler esta semana em tua coluna a carta de nosso revendedor lotérico mais antigo tanto em idade quanto em tempo prestado, me senti também no dever de externar minha tristeza por este momento em que toda a nossa classe está sendo julgada por um fato tão lamentável que ocorreu infelizmente com um representante de nossa categoria entre mais de 10 mil existentes em todo o país.

Já na carta do senhor Genarino, em tua coluna desta semana, ele salienta o grande trabalho social que exercemos hoje para a população brasileira.

Hoje somos uma extensão de nossa parceira Caixa Federal, não somente para jogos, atendemos a classe mais sofrida deste Brasil pagando todos os benefícios e aposentados do INSS, prestamos serviços bancários de toda ordem, recebemos contas tanto de empresas prestadoras de serviços (luz, telefonia, saneamento e outros) quanto boletos bancários.

Enfim, tudo o que um banco faz, nós, hoje, além das apostas, também fazemos, e com um agravante Sant’Ana: com funcionários na sua maioria de pouca instrução, sem nenhuma experiência e treinamento (toda a responsabilidade de transmitir algum conhecimento recai sobre o proprietário), sem traquejo bancário e com salários baixos, que é o que dentro da lucratividade podemos pagar, trabalhando das 8h às 19h.

Meu registro para finalizar é de que a imprensa em geral tente separar o fato grave ocorrido de toda uma classe que representa hoje para nosso país uma importância imensurável, o fato é lamentável, é triste mas é uma situação isolada, nossa categoria continua trabalhando com honestidade e presteza para a população brasileira. (as.) João Cezar Aguiar Borowski, Galeria da Sorte”.

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