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sábado, 27 de fevereiro de 2010
Sorte madrasta
Trinta e oito gaúchos acertaram na Mega-Sena, mas não ganharam nada. A lotérica não registrou a aposta
Igor Paulin - Miro de Souza/Ag. RBS/Ag. O Globo
AZAR NO JOGO
Apostadores protestam na lotérica Esquina da Sorte. Parte deles irá à Justiça para receber o prêmio
Trinta e oito moradores de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, dedicaram a comemorações a noite do sábado 20 de fevereiro. Eles haviam comprado cotas de um bolão feito pela lotérica Esquina da Sorte para a Mega-Sena – e acertaram as dezenas sorteadas.
Depois de conferir o resultado, Roberto Hoffman, um corretor de seguros de 52 anos, beijou a mulher, prometeu dar um imóvel a cada um de seus cinco filhos, quitar sua casa e comprar um carro com ar-condicionado. Como o prêmio total chegava a 53 milhões de reais, Hoffman calculou que receberia 1,3 milhão de reais.
Mesmo com uma aposta alta, de 440 reais, como a feita no bolão, a chance de acerto na Mega-Sena é ínfima: 1 em 758 000. "Acordei milionário no domingo", lembra Hoffman.
Mas então Eliana, sua mulher, resolveu visitar o site da Caixa Econômica Federal. Percebeu que havia algo errado ao constatar que o banco não assinalara acertadores e que o prêmio havia acumulado.
"Fui à lotérica reclamar e encontrei uma cambada de gente na minha situação", disse o corretor. A Esquina da Sorte não havia registrado os bilhetes. O dono do estabelecimento, José Paulo Abend, tornou-se suspeito de estelionato.
Ag. RBS/Ag. O Globo
ESQUINA DA URUCA
O dono da lotérica, José Paulo Abend, comprou três cotas, perdeu o prêmio e é suspeito
de estelionato
A polícia investiga se ele vendia bolões sem inscrevê-los nos computadores da Caixa, para embolsar o dinheiro dos fregueses. Abend diz ter comprado três das cotas do bolão e que, portanto, foi o maior prejudicado. O empresário atribui o erro a sua funcionária Diane Samar da Silva, que teria se esquecido de registrar os bilhetes.
Para provar sua versão, ele entregou à polícia um vídeo feito pela câmera de segurança da loja. O filme mostra Diane, que também entrou no bolão, indo à casa lotérica para conferir o jogo logo depois da realização do sorteio. Lá, ela constatou seu descuido.
Uma parte dos lesados exige que a Caixa lhes pague o prêmio. "Vou à Justiça", avisa Josmari Peixoto, que advoga para 22 apostadores. Ela argumenta que as lotéricas funcionam como extensões do banco, já que nelas é possível fazer operações como depósitos, saques e pagamentos de contas.
Em sua defesa, a Caixa afirma que as lotéricas não estão autorizadas a vender bolões, ainda que essa seja uma prática disseminada. Três dias depois da confusão, a sorte voltou a Novo Hamburgo.
Na quarta-feira, um apostador acertou cinco das seis dezenas da Mega-Sena e recebeu 21 000 reais. Ele comprou o bilhete em outra lotérica. A Esquina da Sorte foi fechada pela Caixa.
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