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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
RUY CASTRO
O mergulhão morreu em vão
RIO DE JANEIRO - Há dez anos, a foto (por Domingos Peixoto) de um mergulhão todo sujo de óleo, saindo com dificuldade da água escura e lutando para respirar numa praia também manchada de óleo, comoveu o mundo.
Ele era uma das vítimas do vazamento de 1,3 milhão de litros de um duto da Petrobras na baía de Guanabara, que matou milhares de aves e toneladas de peixes, contaminou manguezais sem conta e influiu diretamente na cadeia de vida no mar. Foi a maior tragédia ambiental na história da baía.
A imagem do mergulhão asfixiado era uma dura condenação da ação miserável do homem, de seu devastador domínio sobre a natureza. Conheço gente que ficou sem dormir por isso.
Não se tratava apenas de um ser em agonia, mas do que ele representava -as muitas famílias, humanas ou não, que, como ele, tinham perdido seu ambiente e sustento. Algumas dessas famílias nunca se recuperaram, e boa parte do óleo continua até hoje no fundo da baía.
Onze funcionários da Petrobras foram processados. Dez anos depois, o processo terminou, e com o resultado que se esperava: todos, de um jeito ou de outro, absolvidos. Nem a angustiante figura do mergulhão conseguiu sobrepujar as firulas e tecnicalidades jurídicas que levaram à absolvição.
Ouço dizer que, na época da calamidade, os sistemas de controle dessas agressões pelo Ibama eram muito mais tíbios e que, hoje, a Petrobras não se safaria tão facilmente. Leio também que a própria Petrobras, prevenindo zebras, passou a investir mais na gestão ambiental.
Quero crer. Até lá, vale o que um cético disse outro dia: exceto se for pobre, ninguém vai preso no Brasil; se preso, não será julgado; se julgado, não será condenado; e, se condenado, não terá de cumprir a pena. O mergulhão morreu em vão e pelos pecados de todos nós.
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