sábado, 6 de fevereiro de 2010



Beyoncé - Ela está no comando

A atriz, cantora e compositora americana se tornou o maior fenômeno da música pop atual com uma fórmula inusitada: feminismo, sensualidade e bom comportamento
Livia Deodato com Luís Antônio Giron, Mariana Shirai e Rafael Pereira
George Holz

PARA QUEM PODE

A cantora Beyoncé Knowles desafia o machismo com altas doses de sensualidade

Beyoncé Giselle Knowles paga suas próprias contas. Pinta as unhas, arruma o cabelo, vai para festas com as amigas... e deixa o namorado em casa. Veste roupas sensuais, dança e canta de forma provocante: “Você está olhando como se estivesse gostando. Por que não levanta e vem falar comigo?”. Hipnotiza, encanta e assusta: “Eu vou te deixar ficar comigo. Só não seja impertinente”.

Para os que não entenderam o recado, ela aponta a caixa que deve ser usada para juntar os pertences e desaparecer de sua vida (“a da esquerda, da esquerda”). Também avisa a esses infelizes que quem gosta mesmo coloca um anel em seu dedo – como fez o astro rapper Jay-Z. Beyoncé está no comando. Há uma década. A texana de 28 anos, considerada a maior cantora pop do momento, cumpre o que canta.

E o que canta representa um novo poder feminino, em forma de música pop. Ela faz parte de uma linhagem de estrelas musicais que desafia o domínio masculino, de Tina Turner a Lady GaGa, passando por Madonna. No auge da carreira, Beyoncé chegou ao Brasil para mostrar do que a mulher da primeira década dos anos 2000 pode – e deve – ser capaz.

A cantora desembarcou na quinta-feira, em Florianópolis, poucos dias depois de ter lançado seu primeiro perfume – Heat (calor) – e feito a festa na 52a edição do Grammy: levou seis dos dez troféus que disputava, feito inédito para uma artista mulher. Trouxe o marido, Jay-Z, e o pai, Matthew Knowles.

Escoltada por 20 policiais em cinco carros blindados, Beyoncé baixou o vidro do carro que a levava do aeroporto ao hotel no centro da cidade e acenou. Jay-Z buzinou. Ali mesmo, os fãs anteciparam o delírio que marcaria seu primeiro show, à noite.

Os espetáculos agendados para o Brasil fazem parte da reta final da turnê I am... , em que relembra momentos essenciais da carreira e apresenta os hits de seu terceiro álbum solo, I am... Sasha Fierce, de 2008.

A cantora Ivete Sangalo foi escalada para abrir os shows em São Paulo e Salvador. Wanessa, a ex-Camargo, cumpriu a função no show de Florianópolis e repetiria a participação no Rio de Janeiro no domingo e na segunda-feira.

O evento em Florianópolis, ao ar livre, no Parque Planeta, foi um exemplo de megashow pop contemporâneo, alimentado por alta tecnologia, danças arrebatadoras e até do abrir e fechar de imensas cortinas, ao modo de um teatro.

Em duas horas de palco, Beyoncé provou ser uma diva do pop, capaz de dançar e cantar (não apenas fingir que canta) no meio do público, ao mesmo tempo que conversava e tocava os espectadores.
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* »Ele pôs o anel no dedo dela

No palco, ela se apoia em 22 artistas, entre bailarinos, cantores e a banda feminina Suga Mama. Beyoncé se mostra uma artista madura. Nos intervalos entre as músicas, encara o público e faz charme com o cabelo.

Quando a música volta a bombar, sai requebrando e solta seu vozeirão. Os espectadores, a maioria na faixa dos 18 aos 30 anos, vão ao êxtase. Só faltou voar. Não é que ela não seja capaz. As limitações técnicas do palco é que não permitiram sua ascensão por cabos de aço.

É um roteiro de sedução: Beyoncé troca de figurino dez vezes e varia o repertório, revezando momentos românticos, como quando canta “Ave Maria” de Franz Schubert, e dançantes.

Cantou sucessos como a balada lenta “If I were a boy”, mostrando seu registro especial de mezzosoprano. Antes de embalar “Single ladies (Put a ring on it)”, o telão apresentou uma edição divertida de vídeos caseiros de anônimos e famosos fazendo a coreografia, entre eles o presidente americano, Barack Obama (só a parte da mãozinha, é claro). Beyoncé sabe usar, como poucos artistas, os recursos multimídias.

O telão widescreen de última geração – nem nos mais recentes grandes shows de rock se viu imagem de tão perfeita qualidade – reforça e dá novos sentidos a suas letras. Beyoncé se despediu sacudindo uma bandeira brasileira entregue por um fã e cantando “Halo”, em homenagem a Michael Jackson. “Brasil, Brasil, eu posso sentir sua aura”, afirmou.

No total, Beyoncé “sentirá a aura” de 30 países. De Salvador, na quarta-feira, ela seguirá para Argentina, Chile, Peru e Trinidad, onde encerrará a turnê iniciada há 11 meses. Terá cumprido 115 dias de espetáculos por Estados Unidos, Europa, Japão e América do Sul. Diz que, depois da maratona, pretende descansar por pelo menos seis meses, adiando a produção de seu quarto álbum.

“Tenho um monte de melodias e ideias”, afirmou. “Mas preciso dizer a mim mesma: ‘Fique quieta! Fique quieta!’.” Será a primeira pausa em sua carreira. Só nos primeiros dois meses da turnê, na Europa e nos Estados Unidos, ela arrecadou US$ 36 milhões. Seus fãs não economizam para lotar ginásios e estádios de futebol, pagando ingressos que começam na faixa dos US$ 50.

Por aqui, os valores variam de R$ 60 a R$ 750. É a média de preços dos últimos shows internacionais realizados no Brasil, hoje um dos polos de atração de megaespetáculos. E consegue dar uma boa margem para contemplar a maioria dos fãs, modestos ou abonados, que baixam seus CDs de graça pela internet.

Mesmo tendo feito sucesso numa época em que a pirataria atingiu duramente o mercado fonográfico, de acordo com sua gravadora, a Sony, Beyoncé já superou a marca dos 100 milhões de álbuns vendidos, desde os tempos do grupo Destiny’s Child.

No ano passado, a revista de negócios americana Forbes a colocou no alto da lista das celebridades mais bem pagas antes dos 30 anos: só entre 2008 e 2009, Beyoncé arrecadou US$ 87 milhões.

Junto a Jay-Z, somou US$ 122 milhões no mesmo período, o que os torna o casal mais bem-sucedido de Hollywood atualmente. Deixa (bem) para trás Brad Pitt e Angelina Jolie, com “humildes” US$ 55 milhões.

Mister Shadow
EM AÇÃO


Beyoncé começa o primeiro show no Brasil, em Florianópolis, cantando “Crazy in love”. No palco, 22 artistas, entre bailarinos, cantores e a banda só de mulheres, Suga Mama

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