terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


CARLOS HEITOR CONY

Pais e filhos

RIO DE JANEIRO - Pesquisa divulgada há pouco, dessas que ouvem milhares de pessoas de diferentes classes econômicas e sociais, procurou entender (ou explicar) as causas e efeitos que separam as gerações.

Não se tratou do eterno conflito que sempre existiu entre velhos e moços atuando no interior da sociedade humana. O universo pesquisado foi o lar, a família, os pais e os filhos. De forma emblemática, eles representam o conflito entre o velho e o novo, mas há detalhes próprios dessa luta na célula familiar.

A novidade desta vez é que o mal-estar entre as gerações que vivem sob o mesmo teto e repartem a mesma mesa é apenas um mal-entendido cultural de ambas as partes.

Os pais acham que os filhos, por serem jovens, são necessariamente felizes, têm tudo da vida, tudo podem esperar do mundo. Os filhos acham que os pais, por representarem o poder, são necessariamente felizes, porque chegaram lá.

Acontece que nem os filhos são obrigatoriamente felizes nem os pais estão obrigatoriamente realizados. Os filhos reclamam das cobranças paternas. Os pais acreditam que os filhos não reconhecem o valor (e o preço) do lar constituído, da comida na mesa todos os dias.

Bastaria um olhar mais profundo de um grupo sobre o outro para desmanchar o equívoco. Nem os filhos precisam invejar os pais pelo poder nem os pais precisam ficar despeitados porque os filhos têm a vida toda à frente deles.

O que salva a situação, pelo menos em alguns casos menos dramáticos, é o amor entre pais e filhos, e não o simples dever de colocar feijão todos os dias na mesa, para os pais, nem o respeito que os filhos devem ter por quem os sustenta. O amor nunca será a soma de iguais. Será sempre mais amor quando forem diferentes.

Um bálsamo chamado amizade Cada amigo alojado no lado esquerdo do peito vale muito. Tanto que a vida perderia o sentido se eles não estivessem por perto, compartilhando alegrias e atenuando tristezas.

Como você verá nessa reportagem, motivos não faltam para mantermos nossas conexões sempre nutridas e ainda arriscarmos novos encontros, de preferência nos misturando a gente de toda sorte Texto • Raphaela de Campos Mello e Vivian Goldmann
Direção de arte • Camilla Sola

O número impressiona: uma rápida busca no Google para o termo amizade rende nada mais que 18 milhões de remissões. Não é para menos: são os amigos que nos dão colo, falam aquelas verdades que temos dificuldade de contar para nós mesmas, fazem parte da nossa história, enfim, estão sempre ao nosso lado, faça chuva, faça sol, muitas vezes desde os primeiros anos de vida. Eles também servem de inspiração para livros, filmes (veja box na página 38) e letras de música -- quem não se lembra do refrão “Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”, entoado pelo rei Roberto Carlos. Tem ainda o filme O Náufrago (2000). Nele, o personagem interpretado por Tom Hanks só consegue aplacar o desespero provocado pelo isolamento total graças a Wilson, a bola de vôlei transformada em fiel escudeiro.

E olha que o tema não é fruto das necessidades contemporâneas, em que a solidão e o isolamento dão o tom. Na Antiguidade, os filósofos dedicaram um número considerável de reflexões ao assunto, tamanha sua importância na vida cotidiana. O romano Sêneca (4a.C.-65d.C.), por exemplo, mandou um recado a seus contemporâneos inflados pela onipotência: “Nunca a fortuna põe um homem em tal altura que não precise de um amigo”.

Ao que acrescenta o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, autor de O Adolescente em Desenvolvimento (ed.Harbra): “Se pensarmos evolutivamente, a amizade faz parte do instinto de sobrevivência, porque, uma vez agrupado, o homem faz as coisas mais rápido e melhor”.

Antonio Carlos também vê a amizade como uma via de mão dupla. “Se tenho um amigo, isso significa que também sou alguém com disponibilidade para escutar e partilhar as coisas.” Mas, além de acolher, o companheiro deve se sentir à vontade para dizer o que pensa. “É preciso haver espaço na relação para expor seu ponto de vista para o outro”, ele ressalta.

Cercada de apoio, sinceridade e confiança, a engrenagem da amizade embala. É inevitável. No entanto, alguns laços são mais duradouros que outros. Há amigos que a gente fica meses e até anos sem ver e quando reencontra sente que o tempo não passou. Outros, ao contrário, se filiam à nossa vida num determinado período e depois seguem carreira solo.

“Amizade é uma questão de sintonia. Mas as pessoas se modificam e acabam perdendo essa conexão. É comum, por exemplo, reencontrar um amigo do colegial e ficar rememorando os tempos de escola. Porém, é evidente que a vida mudou para ambos e que aquela relação ficou no passado”, avalia o psicólogo.

Nada mais natural. Afinal, estar vivo é protagonizar metamorfoses em série. Logo, dependendo da etapa de vida, teremos expectativas distintas em relação ao círculo de amizades. “Quando somos jovens, o grupo ocupa um espaço muito maior.

Com a chegada da maturidade e das obrigações impostas pelo trabalho e pelo casamento, há uma diminuição da interação social pela falta de tempo. Muda, portanto, a dinâmica da amizade, mas ela continua existindo”, diz a antropóloga e professora Claudia Barcellos.

Segundo a antropóloga, as relações amorosas também podem, em alguns casos, esfriar o vínculo de camaradagem, uma vez que o parceiro assume papel de ouvinte e conselheiro íntimo ou ocupa por um tempo um lugar de destaque na lista de prioridades.

“É comum amigos se afastarem quando um deles inicia uma relação amorosa. Mas é muito importante continuar estabelecendo e aprofundando os vínculos fraternais paralelamente”, enfatiza ela.

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