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sábado, 20 de fevereiro de 2010
21 de fevereiro de 2010 | N° 16253
MOACYR SCLIAR
A sabedoria uruguaia
Como balneário, Punta del Este não é o bicho. Tem dois tipos de praia, a Brava, com ondas, a Mansa, sem ondas, mas nenhuma das duas chega aos pés das praias do Nordeste, ou de Santa Catarina ou de algumas do Rio Grande do Sul.
No entanto, Punta del Este continua atraindo milhares de brasileiros, inclusive e principalmente gaúchos. São turistas que vão em busca de atrações que não dependem da natureza propriamente dita nem da meteorologia, sempre imprevisível.
Punta del Este, dizem os fãs, tem muita coisa para ver e para fazer: lojas, excelentes restaurantes, boa programação cultural em fevereiro há festivais de cinema e de teatro e livrarias dignas de qualquer grande metrópole: dá para voltar de lá com material de leitura para um ano inteiro. E isso não tem a ver só com Punta del Este.
Tem a ver com o Uruguai, um país muito pequeno, de população reduzida (3,3 milhões de habitantes, um terço do que tem o RS), mas absolutamente civilizado.
Nos anos 1960, o Uruguai era conhecido como a Suíça da América Latina: seu padrão de desenvolvimento aproximava-o dos países europeus. Foi dos primeiros países a implantar uma política de previdência social e de assistência aos idosos, que, aliás, formam boa parte da população; tem uma das menores taxas de pobreza do continente e um dos menores índices de analfabetismo.
Foi o primeiro país do continente a estabelecer o divórcio (1907), e um dos primeiros do mundo a dar às mulheres o direito do voto. Mas a partir de 1960 a crise instalou-se: diminuíram as exportações, a inflação atingiu a taxa anual de 50%, o nível de vida caiu; o descontentamento resultou em greves generalizadas e o aparecimento de um movimento de guerrilheiros urbanos, os Tupamaros, responsável pelo sequestro de políticos e industriais.
Veio o golpe militar (1973) e uma severa repressão: o Uruguai tornou-se o país com, proporcionalmente, o maior número de presos políticos da América. Mas o governo militar não conseguiu resolver a crise econômica, e, em 1984, as eleições trouxeram de volta a democracia.
Um pequeno detalhe da própria Punta del Este mostra o bom-senso e a inteligência dos uruguaios.
Em nossas cidades costumamos usar os nomes de ruas para homenagear pessoas. Isto é uma coisa boa, uma contribuição à cultura (ainda que muita gente não saiba quem foi o Fulano que dá nome a uma avenida ou praça), mas envolve um elemento complicador: às vezes não são nomes simples, e lembrá-los, escrevê-los ou pronunciá-los fica difícil. Uma alternativa temos nas cidades americanas, ou em Brasília, ou em Goiânia: as ruas têm números, não nomes.
Fica fácil situá-las (a gente sabe que a Rua 42 está a cinco quadras da Rua 47) e simplifica a vida. Agora, o que temos em Punta del Este? Os dois sistemas, nomes e números.
Pode-se usar um ou outro (pelo jeito, o pessoal lá prefere números), o que configura uma solução engenhosa e mostra que o Uruguai é tão pequeno quanto inteligente. Tamanho não é documento, não é mesmo?
Punta del Este continua atraindo milhares de brasileiros em busca de atrações que não dependem da natureza
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