Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 3 de janeiro de 2009
04 de janeiro de 2009
N° 15838 - VERISSIMO
A tia que caiu no Sena
A sobrinha Alda foi intimada a descobrir tudo sobre aquela queda e contar em detalhes para o grupo
A conversa era sobre parentes, os parentes estranhos, interessantes ou por qualquer razão notáveis de cada um. Alguém já tinha contado que um parente comia favo de mel com abelha dentro.
Outro contara que um tio longínquo se perdera no mato e fora encontrado quase à morte depois de uma semana. Outro que um avô tinha conhecido a Marlene Dietrich em Berlim. Outro que uma tia-avó fora miss, ou um primo jogava futebol profissional e até não era ruim. Foi quando Alda, timidamente, sem saber se o que tinha para contar merecia ser contado, disse:
– Eu tenho uma tia que caiu no Sena.
– Ficaram todos esperando que ela continuasse, mas não havia mais nada para contar. – Como foi que sua tia caiu no Sena? – Não sei.
Mas como, não sabia?
– Não sei. Sempre ouvi contarem em casa que a tia Belinha tinha caído no Sena, mas nunca perguntei como.
– E a tia Belinha nunca contou? – Não. Ela foi morar em outra cidade. Nos vimos pouco. E eu nunca me lembrei de perguntar.
– Ela ainda vive? – Vive.
Aquilo não podia ficar assim. Uma pessoa não podia cair no Sena e fim de história. Era preciso investigar. Caíra no Sena como? Por quê? Fora um acidente? Caíra de um barco? Caíra de uma ponte?
Alda foi intimada a descobrir tudo o que pudesse sobre a queda da tia Belinha no Sena e contar para o grupo.
A mãe não ajudou. – Foi quando ela esteve em Paris... – É óbvio, mamãe. Mas quando foi isso? Ela estava sozinha? Foi com alguém?
– Não me lembro. – Ela não contou como caiu no rio?
– Contou. Deve ter contado. Senão como é que a gente ia saber que ela tinha caído? Contou. Mas eu não me lembro. Faz tanto tempo.
– Vou falar com ela.
A tia Belinha nunca se casara. Estava internada numa clínica. Sempre fora pequena e magra e com a velhice ficara ainda menor e mais magra. Mas os olhos continuavam vivos. Fez uma festa quando viu a sobrinha.
– Aldinha! – Como vai, titia? – Eu não vou mais, minha filha. Eu agora só fico.
– Mas a senhora já andou bastante, hein titia? Lembra quando foi a Paris?
– Ah, Paris, Paris. Nunca mais voltei. Fiquei só com as lembranças daquela vez. As lembranças me fazem companhia e me consolam.
– Como foi que a senhora conseguiu cair no rio, titia?
– Que rio? – O Sena. – Eu caí no Sena?! – A senhora mesmo contou.
– Meu Deus, é mesmo. Eu caí no rio. Eu caí no Sena! Como foi aquilo, meu Deus? Eu não consigo...
E seus olhos de repente perderam o brilho. Quando falou outra vez, foi para se queixar da sua memória. Nem aquele consolo lhe restava. Nem as lembranças tinha mais. Como fora que ela caíra no Sena?
Alda contou para o grupo que a tia Belinha tinha ido sozinha a Paris e lá conhecera um conde francês, ligeiramente arruinado e ligeiramente maluco, com quem tivera um tórrido caso de verão. Numa noite quente, dançando numa margem do Sena, depois de muitos copos de champanhe, os dois tinham tropeçado e...
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