sábado, 6 de dezembro de 2008



06 de dezembro de 2008
N° 15811 - NILSON SOUZA

Por que corremos?

Não gosto de dezembro. Sei que é um mês igual aos outros, tem chuva e sol, tem dias iluminados e sombrios, tem noites escuras e estreladas. Esta semana, inclusive, fomos contemplados por uma magnífica conjugação da Lua com Júpiter e Vênus, formando um desenho inesperado e lindo no céu do Rio Grande.

Minha bronca, portanto, não é com a natureza deste mês que foi colocado no final do calendário por pura convenção.

O problema são as pessoas. Elas enlouquecem no último mês do ano. Correm como se o mundo – e não o ano – fosse acabar. Ficam nervosas, brigam no trânsito, empurram-se nas lojas, compram o que não precisam, cometem excessos, bebem demais e raciocinam de menos.

Os habitantes de dezembro são uns trogloditas.

Melhor dizendo, são demasiado civilizados. Outro dia li um texto sobre nossos ancestrais pré-históricos e concluí que eles eram bem mais parceiros e solidários do que o homem moderno.

Até por necessidade, para se proteger dos perigos daqueles tempos primitivos, para enfrentar animais ferozes e o medo do desconhecido, formavam grupos, ajudavam-se mutuamente. Embora dependessem da força física para sobreviver, aprenderam a ser criativos e habilidosos.

Basta imaginar, por exemplo, o primeiro homem que dominou a arte de fazer fogo, debruçado sobre um montinho de palha, assoprando levemente para que a faísca resultante do atrito das pedrinhas virasse a chama que ele, orgulhosamente, transformaria em fogueira para aquecer a tribo.

Quem teria paciência para uma proeza dessas neste mundo de tecnologia, urgência e competição?

Já ouvi dizer que as pessoas correm desta maneira no período de festas na ilusão de alcançar uma miragem fugidia chamada felicidade. Por isso, forçam confraternizações, tentam participar de todas as baladas, obrigam-se a trocar presentes e votos de sucesso. A maioria, porém, alcança apenas a frustração.

Talvez pela singela razão de que a verdadeira felicidade é feita de tênues momentos de paz, de breves instantes de ternura familiar, de pequenas gentilezas entre amigos. Na inevitável escaramuça de dezembro, quase não nos sobra tempo para a simplicidade.

O consolo é que o mês da ansiedade passa como um trem de alta velocidade. Querendo ou não, somos todos passageiros. E a alternativa que nos resta, como ensinou Mario Quintana, é seguir em frente, jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Aproveite o sábado - Um excelente fim de semana com muito sol aí dentro de você e lá fora.

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