sábado, 20 de dezembro de 2008



20 de dezembro de 2008
N° 15825 - PAULO SANT’ANA


A pior dor

Dizem as mulheres que a pior dor é a dor do parto. Ela se equipara à dor renal, a dor por pedra nos rins.

E junto com essas duas dores ressalta também a dor no nervo ciático.

São três poderosas dores físicas, estas três.

Toda dor é incômoda e crucial. A maior dor que sofri foi na infância, a dor de dente. Eram períodos longos de dor de dente, podiam-se ver filas de meninos com dor de dente no meu arrabalde, alguns com os rostos envolvidos em panos, com os remédios mais exóticos que se podia imaginar, entre eles a malva e até creolina, por incrível que pareça. Creolina para dor de dente!

Tem também uma dor terrível, segundo os depoimentos dos que a sofrem: a enxaqueca.

A enxaqueca é uma síndrome de cefaléias (dores de cabeça). E tem uma característica dominante: ela é periódica.

A enxaqueca nunca deixa de vir, passam meses e ela volta. Quem é paciente de enxaqueca sabe que nunca se livrará desta dor.

Claro que a dor física pior é aquela que a gente sente. Por isso há que se respeitar os que dizem que a pior dor de todas as dores é a dor de ouvido.

A dor de ouvido é uma dor respeitável. Ela se manifesta às vezes por ferroadas, por latejos que vão desmoralizando e enfraquecendo os seus pacientes.

Entre o povo se cristalizou o hábito, totalmente condenado pelos médicos, de se pôr azeite quente no ouvido quando se manifesta a dor.

Estranhamente, a dor de ouvido é comum nos bebês e nas crianças.

Entre as dores cruéis, figuram salientemente as várias dores pós-cirúrgicas. Sem entender nada de medicina, imagino que as dores pós-cirúrgicas se manifestem como uma reação do organismo à agressão que sofreu com a cirurgia.

Diz-me aqui o companheiro Nílson Souza que sempre ouviu falar que a pior dor é aquela que se manifesta ao lado da boca, junto da bochecha, abaixo do olho.

Já ouvi falar desta dor e deve ser ligada ao nervo trigêmeo. Não sei por que sempre achei que esta dor é ligada à enxaqueca, talvez porque meu amigo Abraham Lerrer, quando estava atacado de enxaqueca, sempre trazia um lenço envolvendo o lado da boca.

Estou assim falando de dores, um assunto desagradável por dois motivos: o primeiro é para chamar a atenção dos meus leitores de como eles devem se considerar felizes caso não estejam sofrendo de nenhuma dor. Uma forma de a gente ser feliz, embora nunca se perceba, é a do não-sofrimento. Só não sofrer já basta para ser feliz. Não se sendo infeliz, já dá para achar-se que se é feliz.

E o outro motivo por que estou falando de dores é que qualquer uma dessas dores violentas que arrolei acima já é suficiente para atormentar a vida de qualquer pessoa.

Então imaginem o que é ter duas dessas dores simultaneamente.

É o caso do meu amigo José Paulo Zarif, colega aqui de Zero Hora. De uns dias para cá, ele vem sendo atacado ao mesmo tempo pela dor no ciático e pela dor de pedra no rim.

Eu não sei como pode um organismo humano suportar ao mesmo tempo duas das maiores dores que se conhece.

Uma já é um martírio. E duas ao mesmo tempo é uma coincidência trágica.

Não entendo como, com toda essa evolução tecnológica e quimioterápica já atingida pela humanidade, não tenha se inventado ainda uma maneira de dominar as dores.

E porque já senti dor, porque já sofri atrozes dores, me apiedo muito dos que as sofrem. Alguns em longas e intermináveis agonias, tombados nos leitos, muitas vezes de hospitais.

Por isso é que sempre lembro aos médicos que o principal dever deles não é o de curar. E sim o de tirar a dor.

Sempre digo que medicare, do latim, não quer dizer curar, quer dizer tirar a dor.

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