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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
VALDO CRUZ
Sonhos natalinos
NATAL COMO ESSE, infelizmente, só no próximo governo. A despeito da crise aguda na economia mundial, teremos ainda um bom final de ano. Os seguintes, contudo, serão difíceis.
E taxa de crescimento acima de 5% será missão para o sucessor do presidente Lula. Por sinal, consolidado o cenário político atual, pouco importa quem ganhará: a receita será a mesma para que o país tente voltar a crescer forte.
Dentro do Ministério da Fazenda, por exemplo, é comum ouvir de assessores de Guido Mantega que, mantida a tendência de Dilma Rousseff e José Serra monopolizarem a eleição de 2010, não há com o que se preocupar. Um deles chega a dizer que dá até para tirar férias durante o período eleitoral.
Tal tranqüilidade, com certeza, não se repete no Banco Central, alguns quilômetros distante do gabinete de Mantega. Na equipe de Henrique Meirelles, o comentário deve ser exatamente o oposto: Dilma e Serra vão exercer uma pressão e influência sobre os rumos da política monetária bem superior à do presidente Lula, e há risco de turbulências na campanha.
O fato é que a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra praticamente rezam pela mesma cartilha. São adeptos de uma forte presença do Estado na economia e críticos contundentes da política monetária conservadora do BC. Dependesse apenas dos dois, o ex-tucano já não estaria mais na direção do Banco Central.
Claro que, uma vez na cadeira de presidente, a visão de Dilma e Serra pode sofrer mutações. Tal como aconteceu com Lula, que se revelou um conservador em termos econômicos, eles podem se aproximar do estilo atual do petista.
Lula também não gosta nem um pouco da receita de Meirelles. O presidente, contudo, assimilou como poucos no mundo petista a importância de uma das regras basilares da economia capitalista: a força das expectativas e da confiança sobre o ritmo de crescimento do país.
Não por outro motivo o petista tem insistido nos últimos discursos na necessidade de consumidores e empresários manterem a confiança no país. Pela mesma razão, Lula sabe que, mesmo desejando, não pode trocar o comando do BC em meio a uma crise. Seria o mesmo que jogar gasolina na fogueira.
O presidente perdeu a oportunidade de fazer a mudança na virada do primeiro para o segundo mandato. Agora terá de aguardar o tempo certo. Que, tudo indica, está próximo.
Quando os juros caírem, no início de 2009, e a política monetária começar a ser suavizada, Meirelles deve deixar o BC para retomar seus projetos políticos. Essa é, pelo menos, a aposta de quem o conhece de perto. Que diz inclusive que ele tem sonhos presidenciais.
Tudo bem, estamos numa época em que sonhar é liberado.
VALDO CRUZ, repórter especial da Folha, escreve hoje excepcionalmente neste espaço.
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