quinta-feira, 18 de dezembro de 2008



NA CAMA SEM MADONNA

A vida de um cronista pode ser muito dura. Nem sempre a realidade coincide com sua capacidade de opinar sobre ela. Madonna está na área. Eu sempre preferi Madonna a Michael Jackson. Entre anjos e demônios, acho os demônios menos enfadonhos, embora os anjos costumem ser enfadonhamente demoníacos. Anjos, em princípio, não têm sexo.

Demônios, geralmente, só pensam no sexo dos anjos. Ou em sexo com anjos. Tudo na vida de Madonna é estratosférico. Ela já ganhou mais de 120 prêmios importantes, vendeu mais de 280 milhões de álbuns e 160 milhões de singles, fez a turnê que mais arrecadou dinheiro na história e manda no mundinho universal da música há mais de um quarto de século.

Madonna é show. Madonna é dez, mil, milhões, bilhões. Madonna é super, hiper, megaespetacular. Entenderam ou, como diz a galera, vou ter que desenhar? Britney Spears quer ser Madonna quando crescer. Está no bom (mau) caminho. Pelo jeito, Michael Jackson também queria ser Madonna quando crescesse. Mas Peter Pan não cresceu. Apenas encolheu.

Nada na vida de Madonna é trivial. Ela já pagou 120 milhões de dólares para se livrar de um marido. Tem um patrimônio avaliado em mais de 1 bilhão de verdinhas. Há muito barbado no planeta que ainda sonha em ir para a cama com essa coroa (50 anos) retada, de faca na bota, mais animal do que Romário, Edmundo e Júnior Baiano juntos, antes da aposentadoria e do rebaixamento do Vasco. Madonna está perto da terceira idade.

A velhinha, contudo, pode gabar-se realmente de continuar na melhor idade, deitando e rolando quando sente vontade. Tirei uma manhã deitado escutando Madonna. Fui de 'Like a Virgin' a 'American Life', de Evita Perón a Che Guevara, das provocações eróticas ao erotismo sem provocação. Não perdi meu tempo. Também não atingi o êxtase. Que saco!

Concluí que eu tenho muito a dizer sobre Paulo Coelho, Charles Baudelaire, José Mendes, especialmente José Mendes, Capitu, Teresinha Morango, Simón Bolívar, Nilmar, D’Alessandro, Michel Houellebecq, Bento Gonçalves e mais alguns personagens menores da história universal. Mas nada tenho a dizer sobre Madonna. Nem 'Hung up' atiçou o meu apetite.

Quase consegui me emocionar ao rastrear as suas opiniões políticas. Numa entrevista de impacto político profundo, há alguns anos, a uma pergunta decisiva, 'quem você gostaria de ver cantando ‘Justify My Love’ num bar vagabundo?', ela deu uma resposta não menos acachapante: 'Bill Clinton. Num dueto com Al Gore.

Com um boá de penas no pescoço'. Uma artista com tal visão de mundo deve ser respeitada. Pensei em cantar 'Justify My Love' num bar vagabundo com um boá de penas no pescoço. Confesso que imaginei Luiz Inácio no lugar de Clinton.

Achei o bar. Não é difícil. Custei para encontrar o boá. Fiz um teste no banheiro. Ouvi um urro do vizinho. Cancelei imediatamente a minha apresentação. Por sorte, os ingressos nunca seriam vendidos.

Pensei, então, em fazer uma enquete: quem você gostaria de ouvir cantar 'Justify My Love' num bar vagabundo? Melhor: qual personalidade política ou celebridade brasileira você gostaria de ouvir cantar 'Justify My Love' num bar vagabundo com um boá de penas no pescoço? Respostas por e-mail.

Não me decepcionem. É minha primeira pesquisa interativa. Não importa se nunca ouviram 'Justify My Love'. Simplifico: quem você gostaria de ouvir cantar qualquer coisa num bar vagabundo com um boá de penas no pescoço? Estou fora.

juremir@correiodopovo.com.br

Uma ótima quinta-feira - Aproveite o dia.

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