sábado, 27 de dezembro de 2008



Panetone, Papai Noel, peru e presentes no Bom-Fim

Morei no Bom-Fim durante dezesseis anos. Faz alguns dias o Zé me perguntou se a comunidade judaica comemorava o Natal e o Ano-Novo dos goym, os gentios, os não-israelitas. Naqueles tempos da Casa Santa Catharina na esquina da Fernandes com a Osvaldo e do Panifício Zoratto na esquina da Fernandes com a Henrique Dias, onde hoje está o Zaffari, olha,

Zé, alguns patrícios, discretamente, ou nem tão discretamente, curtiam as muitas comemorações e bebemorações religiosas-gastronômicas-consumistas de final de ano. E daí? Estás estranhando? Qual o problema deste simpático sincretismo? Nenhum.

Todos somos filhos de Deus e, me diga, quem resiste a panetone, peru, presentes, champanha, nozes, Papai Noel e festas em todo lugar? O negócio é confraternizar, festejar, acreditar. De repente pinta a paz mundial, aquela, tão sonhada. Sei lá, dizem que Deus criou os gentios (goym) porque alguém tem de comprar no varejo, mas isso é outra história.

Problema mesmo surgiu em relação a uma amiga israelita-católica que freqüentava sinagogas e igrejas ao mesmo tempo e eu, já boca-grande muito antes de ser jornalista, sem saber que ela estava com umas amigas israelitas na sala, perguntei se já tinha ido à missa naquele dia. Ela deu uma bela enrolada e me disse para jamais tocar no assunto. Fiquei bem quietinho.

Minha amiga fazia umas festas legais e eu, décadas antes do jornalismo, já era chegado numa boca-livre esperta e não ia perder as dela. Minha amiga agitava um sincretismo comedido, até. Um conhecido meu, por exemplo, é um baita de um crente. Freqüenta terreiros de umbanda, igrejas de vários tipos, mesquitas, sinagogas, centros espíritas, suítes da tia Carminha, escritórios de consultoria administrativo-financeira e, dizem, até divã de psicanalista para "elaborar" tudo o que lhe vai na cabeça.

Mas é como falei: o importante é acreditar em algo que te faça pegar no sono de noite e pular da cama pela manhã, nem que seja para, depois, ficar sentado num banco do Parcão o dia inteiro, olhando para os bumbuns das babás. Pedras, runas, baralho de tarô, xin tang banzai, cristais, pirâmides, livros do Paulo Coelho, sei lá, acredite no que quiser. Só não faça que nem o Petrúcio, amigo meu que já partiu cedo desta para o infinito desconhecido.

Ele não acreditava nem na descrença e aí a vida não acreditou mais nele. No mais, boas festas, imensos abraços, beijos de ex-gordo, felicità e tante cose belle para 2009. (Jaime Cimenti)

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