terça-feira, 16 de dezembro de 2008



16 de dezembro de 2008
N° 15821 - MOACYR SCLIAR


A quase reabilitação de Bush

Que termo definiria melhor o governo Bush? Ocorre-me “patético”, e isto, apresso-me a acrescentar, não é ofensa; nada tem a ver com a palavra “pateta”. Patético é algo que desperta piedade, tristeza, o que, naturalmente, não afasta uma postura crítica diante dos erros desse governo, que não foram poucos.

Mas a verdade é que Bush vai terminar o seu mandato com um momento que, se não é glorioso, quase o reabilita, e que ocorreu quando, em entrevista coletiva, um jornalista iraquiano, atirou-lhe os sapatos, forma tradicional de mostrar desprezo e raiva.

Com uma agilidade surpreendente, evidência de um bom preparo físico (e nisto, convenhamos, ele dá um bom exemplo), o presidente esquivou-se. Depois comentou: “O sapato era de tamanho 10 [no sistema americano, 42 no nosso]”. Se tivesse dito: “Agradeço o presente, mas não é meu número”, seguramente teria roubado a cena.

A verdade é que o incidente foi desagradável, para dizer o mínimo. Um presidente que mandou bombardear o Iraque não pode se queixar quando é alvejado com sapatos, diria alguém. Ao que Bush responderia, não sem razão, que quem atira sapatos logo estará atirando pedras, e coquetéis Molotov, e granadas.

Mas preferiu uma resposta bem-humorada, e neste sentido revelou uma faceta pouco conhecida de sua personalidade, algo que faz pensar. Se há lugar no mundo onde há milênios o bom humor é raridade, é o Oriente Médio. O que não deixa de ser compreensível. Estamos falando de uma região em grande parte árida, desértica, onde a sobrevivência era, e é, difícil e onde o conflito tribal era, e é, uma constante; não é de admirar que o fundamentalismo religioso ali tenha encontrado um clima propício.

Mesmo o famoso humor judaico é muito pouco praticado em Israel. Explicável: trata-se do humor do oprimido, do perseguido, o melancólico humor que muitas vezes serviu de defesa, ainda que precária, contra o desespero.

Esta é uma situação que os israelenses definitivamente recusam. Sempre preferiram defender-se, e defender-se eficazmente, com armas modernas, a ir para os campos de extermínio dizendo frases impregnadas do humor judaico. Isto posto, deve-se ponderar que humor não se destina somente a fazer rir ou sorrir. Humor é uma forma de aproximação emocional entre pessoas, algo que faz muita falta no Oriente Médio.

Por uma simbólica coincidência, quase simultaneamente com o incidente dos sapatos, Israel libertou mais de 200 prisioneiros palestinos, vários deles integrantes do Hamas. Um gesto de boa vontade, uma contribuição pequena mas importante ao processo de paz. Muito melhor que atirar sapatos ou mísseis.

Recebo, da Aidê Ferreira Deconte, uma mensagem acerca do texto que escrevi sobre seu irmão Adair Ferreira da Rosa, brutalmente assassinado por um assaltante em Gravataí. Aidê conta que, em memória do tio Adair, como era conhecido entre seus inúmeros amigos, foi organizada uma passeata com centenas de pessoas usando camisetas com a foto dele.

Um protesto contra a violência que vivemos e que se traduz em mortes absurdas. Também recebi mensagens da enfermeira Suzane Silva, de Luiz Roberto Soares Nunes, de Sidney Charles Day, de José Diogo Cyrillo da Silva (assinalando os 75 anos da USP, Universidade de São Paulo).

O Luiz Alberto Ibarra manda um nome que condiciona destino: trata-se de uma lutadora de jiu-jitsu que em 2003 foi disputar um campeonato nos Estados Unidos e nunca mais voltou – aparentemente ficou por lá.

Nome dela: Andrea Sumida. Anda sumida mesmo, a moça. Já o Ronaldo Capparelli fala de um piloto de carro de sobrenome Biela e chama a atenção para o chefe de uma turma de salva-vidas, o capitão Riomar.

E o José Luiz Aragão, fã do xadrez, nota que as iniciais GM (Grande Mestre, título muito valorizado) aparecem nos nomes de dois enxadristas brasileiros, Gilberto Milos e Darcy G.M.Lima. Pelo jeito, José Luiz, são letras que condicionam destino glorioso – exceto, claro, no caso da semi-falida General Motors americana.

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