quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Voltas que o mundo dá

BRASÍLIA - Enquanto Bush leva sapatadas no Iraque e é excluído da Cúpula da América Latina e do Caribe na Bahia, Raúl Castro vira a estrela do megaencontro de 33 países e é recebido com tapete vermelho por Lula hoje em Brasília. São as voltas que o mundo dá.

Jornalista deve ser imparcial, apartidário e todas essas coisas, mas, se o regime é de exceção, o jornalismo também é. Bush mandou tropas e levou sapatos, legando para a história uma imagem contundente da sua saída da Casa Branca, no rastro de duas guerras e de uma crise internacional jamais vista.

Já os presidentes sul-americanos estão cada vez mais parciais, partidários e todas essas coisas contra os EUA, com ou sem Bush, e a favor de Cuba, com Fidel e agora mais ainda com o moderado Raúl, que promete abrir a ilha. Só não se sabe como.

Segundo Raúl, seu desejo é transformar o Brasil no sócio "número um" de Cuba, mas ele fez questão de passar em Caracas antes de chegar à Bahia e a Brasília na sua primeira viagem depois de assumir o cargo.

Se o Brasil e Lula são o número um, Chávez vem antes do um. E a competição passa pelo petróleo.

Chávez faz jorrar petrodólares em Cuba, e a Petrobras anunciou investimentos de US$ 8 milhões para prospecção na ilha. Isso é só o começo, e os negócios bilaterais cresceram cerca de 60%. São decisões objetivas, ao contrário do lero-lero démodé da Venezuela, da Bolívia e cia. contra Washington, e bem mais produtivas do que as sapatadas que, vira e mexe, Evo Morales e Rafael Correa dão, e outros ameaçam dar, no Brasil.

Ao criar o Conselho Sul-Americano de Defesa, o Cone Sul começa a enterrar a JID (Junta Interamericana de Defesa). Com a Cúpula da América Latina e do Caribe e a volta de Cuba, a região começa a enterrar a OEA. A diferença? É que os EUA fazem parte da JID e da OEA, mas estão fora do Conselho e da Calc.

Tomara que seja uma estratégia adulta, não uma birra infantil.

elianec@uol.com.br

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