sexta-feira, 19 de dezembro de 2008



19 de dezembro de 2008
N° 15824 - PAULO SANT’ANA


Senado safou-se de sufoco

Na calada da madrugada, o Senado aprovou ontem o aumento do número de vereadores para centenas de municípios brasileiros.

Os senadores foram pressionados até quase o desforço físico pelos suplentes de vereadores e vereadores que queriam porque queriam modificar a decisão da Justiça Eleitoral que reduzira o número de vereadores, afrontando uma regra de jogo que eticamente não poderia ser modificada.

Mas a classe política adora se vingar do Poder Judiciário quando este quer impor-lhe limites. E sai a legislar numa queda-de-braço com o Judiciário, o Legislativo tentando se impor sobre o outro poder.

Vai daí que, na pressa da madrugada, o Senado construiu um remendão, através de uma emenda constitucional que aumentava o número de vereadores.

Mais fez isso o Senado para safar-se do bafo na nuca que lhe impunham os vereadores e suplentes, apinhados em todos os cantos e galerias, pressionando por gestos e palavras os senadores a fazer-lhes as vontades.

Até os três senadores gaúchos foram vencidos pelo sufoco.

Mas, horas mais tarde, o presidente da Câmara dos Deputados comunicava ontem que assim não ia dar: a Mesa só concordava como aumento do número de vereadores se não fossem aumentadas as despesas.

E agora não dá mais tempo para empossar os 7,3 mil vereadores a mais que a classe política reivindicava a 1° de janeiro.

Insólita e corajosa medida do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e demais componentes de sua Mesa ao rejeitar a manobra infladora dos quadros legislativos municipais. Deve ser louvada como uma das únicas iniciativas que impedem o aumento de despesas em favor do corporativismo, num tempo em que todos se atiram com sede ao poço largo dos recursos públicos em favor de seus interesses pessoais.

Interessante um dos argumentos centrais dos que queriam aumentar o quadro das Câmaras Municipais: segundo eles, não haveria qualquer repercussão financeira se fossem acrescidos mais 7,3 mil vereadores ao quadro antes reduzido pela Justiça Eleitoral.

Eles diziam que tanto não é verdade que haveria aumento de despesas, que, quando foram reduzidas as cadeiras, a despesa aumentara.

Ou seja, tentaram fazer crer à incauta opinião pública que, se quando se diminui o número de cadeiras a despesa aumenta, logo, se for aumentado o número de cadeiras, a despesa diminuirá.

Com menos vereadores, gastou-se mais. Com mais vereadores, há de se gastar menos! Isso não se sustenta nem no embate com o mais frágil argumento contrário.

Qualquer criança sabe que a despesa só poderia aumentar.

Risível.

Restou a forma astuciosa com que o Senado se livrou do aperto que os vereadores e os suplentes lhe impuseram na madrugada suarenta da pressão física irresistível.

O Senado preparou uma fórmula apressada e sem conteúdo de sustentação para sair da encrenca, aprovou o que queriam os vereadores e suplentes interessados e encaminhou o documento balofo para a Câmara, escapando às disparadas do amasso arrasador.

Lá, na Câmara dos Deputados, finalmente e com surpresa, pôs-se cobro à patranhada.

Se quiserem inchar as Câmaras de Vereadores e aumentar despesas dos municípios, vão ter de esperar por mais quatro anos.

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