Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
domingo, 21 de dezembro de 2008
21 de dezembro de 2008
N° 15826 - VERISSIMO
Pum de canguru
O aquecimento global tem várias causas e uma das maiores – e menos comentadas, por razões óbvias – é a flatulência animal. A nossa flatulência também contribui para o problema, claro, mas é modesta em comparação com o estrago causado à atmosfera pelos puns em escala industrial de bovinos, ovinos e eqüinos.
Como não adianta tentar controlar a emissão de gases dos bichos de acordo com o tratado de Kyoto (filtros etc.) ou apelar para a sua consciência planetária, ou boa educação, o problema parece insolúvel – ou só solucionável pela eliminação física dos poluidores, o que seria impensável. Mas leio que surgiu um sopro – se é que cabe o termo – de esperança. Está-se experimentando com um substituto surpreendente para o boi que pode torná-lo obsoleto e cortar pelo menos parte das emissões animais causadoras do efeito estufa. O canguru.
O canguru é aquele bicho estranho que só existe na Austrália. É um marsupial, o que quer dizer que tem uma bolsa, um marsúpio, para levar as crianças – e, eventualmente, chaveiro, celular, pente etc. A origem do nome “canguru” é controversa. Segundo uma versão contestada o capitão Cook, ao chegar na Austrália, perguntou a um nativo como se chamava aquele curioso bicho que carregava os filhotes numa espécie de camarote VIP.
– Canguru – respondeu o nativo.
O capitão Cook passou a chamar o bicho estranho de “canguru”, sem desconfiar que “canguru” na língua dos nativos queria dizer “não tenho a menor idéia”. Dali por diante, canguru foi chamado de “canguru” por todo o mundo, e o capitão Cook foi chamado de burro pelos nativos, às gargalhadas.
Como ele é quase um símbolo nacional, estuda-se muito o canguru na Austrália e uma das coisas que descobriram é que as microbactérias responsáveis pela fermentação da comida no estômago do bicho não produzem etano, como as de outros bichos. Ou seja: pum de canguru é inofensivo. Pelo menos para a atmosfera.
Que canguru é comível já se sabia. Durante 40 mil anos antes da chegada do capitão Cook e depois dos colonos ingleses com seus bovinos e ovinos, os nativos comeram canguru e não apenas sobreviveram como gostaram.
Sua carne, dizem, tem um sabor forte de caça, mas pode muito bem substituir a carne de boi, com um pouco de boa vontade, bom tempero e consciência planetária. Pois mais importante do que o paladar é saber que os gazes emitidos pelo canguru não agravarão o aquecimento global.
O canguru pode ir substituindo o boi gradualmente, primeiro na Austrália, depois em outros países. Com o tempo, rebanhos bovinos darão lugar, nos campos de pastagem do mundo, a rebanhos de cangurus dando pum à vontade. Apenas tendo-se o cuidado de aumentar a altura das cercas, pois canguru pula muito.
Algumas outras coisas mudarão, é verdade, com a substituição do boi pelo canguru. Churrasqueiros terão que se adaptar aos poucos aos novos cortes (“Que parte é esta que eu estou comendo?” “É melhor nem saber”). Vaqueiros e caubóis terão que rever seus métodos – vá aprender a laçar um bicho que corre mais do que o cavalo.
E, importante: vá explicar a mudança às vacas. Mas uma novidade será bem-vinda. Há muito tempo se critica a injusta falta de equilíbrio numa tourada, onde o touro não tem outro recurso senão o ataque cego contra um toureiro cheio de poses e piruetas que faz pouco da sua força bruta e só de vez em quando leva uma chifrada para aprender.
E que o touro nunca vence. Com o canguru em lugar do touro, a briga será mais parelha. O canguru da pontapé e rabada. Fica de pé e sabe usar as patas dianteiras como boxeador, portanto pode ganhar do toureiro por pontos. Não tem chifres, mas pode desmoralizar o toureiro e correr com ele da arena. Ou então pular da arena para a arquibancada e esvaziá-la em segundos, acabando com a festa.
Mas tudo isto é conjetura. Primeiro a idéia tem que pegar.
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