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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
O muro do conformismo
SÃO PAULO - Permito-me voltar ao artigo do arquiteto Jorge Ricca Jr., mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que, na quinta-feira, defendeu a derrubada do muro que separa o campus da Universidade de São Paulo das pistas da marginal do rio Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo.
Ricca tem toda a razão ao qualificar de "espanto" o tal muro, mas o meu ponto é outro. Esse "espanto" é o motivo pelo qual sou o único paulistano que conheço que não tem orgasmos com a tal lei da cidade limpa, tida como um dos fatores que ajudaram a reeleger o prefeito Gilberto Kassab.
Não é que a cidade não tenha ficado mais limpa. Claro que ficou. Mas não ficou mais bonita, o que seria muitíssimo mais importante.
E o muro contra o qual se levanta Ricca é a melhor prova: a retirada de cartazes não embelezou a área. Ao contrário, expôs o "espanto". Saíram os cartazes e entrou uma área verde, um edifício histórico, uma praça bacana?
Não. Só concreto, 2,3 km de comprimento por 3 metros de altura, nas contas de Ricca, que esqueceu de mencionar os ferros pontiagudos em cima, como se atrás houvesse um campo de concentração e não um campus universitário.
Os profetas do conformismo, maioria absoluta no Brasil, dirão que o objetivo da lei não é o de embelezar São Paulo, uma cidade "carente de espaços públicos dignos, embora rica de espaços privados exclusivos", como diz Ricca.
Nem sei se ainda é possível embelezar São Paulo. Mas, se além de aplaudir a cidade limpa, o paulistano brigasse por mais beleza, as coisas talvez começassem a andar. O que não dá é aceitar que a cada chuva mais forte, haja inundações, como se fossem tão inevitáveis como o carnaval ou a Semana Santa.
De todo modo, feliz Natal aos que se conformam e mais feliz ainda aos que querem sempre mais.
crossi@uol.com.br
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