domingo, 21 de dezembro de 2008



21 de dezembro de 2008
N° 15826- MARTHA MEDEIROS


Calma, rapaz

Depois de eu já ter escrito vários textos sobre Natal, uns recomendando frear o impulso consumista, outros lembrando de como os gestos são mais significativos que os presentes, outro ainda homenageando a Mamãe Noel (bem mais pró-ativa nessa época do ano que o Papai), e textos ainda lembrando que há crianças que nunca tiveram colchão, lápis de cor, iogurte ou sapato, chego a outro fim de ano esgotada: o que mais dizer a essa altura do campeonato?

Eis que me chega em mãos um livrinho com textos de Drummond – ele mesmo – editado pela Record e chamado Receita de Ano Novo, onde encontro umas frases necessárias e bem mais brilhantes do que qualquer uma que eu possa inventar nessa época de tão pouca novidade.

Então, caros, essa crônica de hoje será feita a quatro mãos com a honrosa parceria de Carlos Drummond de Andrade, que na página 89 do tal livrinho destaca um certo João Brandão, personagem que significa um João qualquer, qualquer um. Ele nos conta:

“Cheguei ao ponto construtivo destas considerações. João Brandão, que às vezes é modelo de sabedoria relativa (a absoluta consiste em deixar a fantasia agir), contou-me que todo ano recebe um cartão nesses termos: “CALMA, RAPAZ”.

“E quem é que te manda este cartão?” perguntei-lhe. “Eu mesmo. Entro na fila, compro o selo, boto na caixa. Porque se eu não fizer isso, ninguém o fará por mim. Ao receber a mensagem, considero-a mandada por amigo vigilante e discreto, e faço fé na recomendação, que eu não saberia me impor, diante do espelho”. Pausa e continuação: “Tem me ajudado muito.

Você já reparou que ninguém recomenda calma a ninguém, na época de desejar coisas? Deseja-se prosperidade, paz, amor, isso e aquilo (´tudo de bom pra você´), mas todos se esquecem de desejar calma para saborear esse tudo de bom, se por milagre ele acontecer, e principalmente o nada de bom, que às vezes acontece em lugar dele. Como você está vendo, não chega a ser um voto que eu dirijo a mim próprio, pelo correio. É uma vacina”.

Se você pudesse mandar um cartão pra si mesmo (e pode), o que escreveria nele, que vacina aplicaria a si próprio? Pense em qualquer frase, seja um lugar comum ou incomum, algo profundo ou raso, inventada por você ou pelo acaso.

“Troque a tristeza pelo alívio”

“Não queira nada dos outros que já não seja seu”

“Pare de lutar tanto pela manutenção do tédio”

“Viver é existir sem medo”

“Espante-se consigo próprio”

“Melhor ter uma vida imperfeita que imitar a vida perfeita dos outros”

O que mais? Pesquise, vá atrás do que você andou sublinhando por aí, lembre de algo que lhe comoveu ou que lhe fez rir muito, procure nos livros de poesia, de filosofia – ou nos livros de sacanagem, por que não?

Nesse Natal, mande um cartão endereçado a você mesmo. Em poucas palavras, coloque ali a vacina que vai salvá-lo em 2009. Seja seu próprio João Brandão.

Feliz reencontro com o que você deseja.

Aproveite o dia - Um excelente domingo.

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