sexta-feira, 26 de dezembro de 2008



26 de dezembro de 2008 | N° 15830
PAULO SANT’ANA


Dirigir é uma solenidade

A causa principal dos acidentes de trânsito é a irresponsabilidade.

Morrem por ano em acidentes de trânsito 50 mil pessoas no Brasil.

São 35 mil mortes na hora em que se verificam os acidentes, no mínimo morrem mais 15 mil pessoas entre os 400 mil feridos em acidentes de trânsito, que perecem nos hospitais.

Quatrocentos mil feridos em acidentes de trânsito no Brasil em apenas um ano! Quanta dor, quanta mutilação, quanta inutilização perpétua de pessoas!

Quanta despesa!

Estes números são anormais, excessivos, pertencem a uma sociedade visivelmente doente.

Agora mesmo, a semana das Festas se iniciou com pelo menos 10 mortes no trânsito em apenas dois dias e meio, o que quer dizer que se somarão dezenas de mortes até a passagem do ano.

Esse morticínio que se caracteriza por cerca de 130 mortes por dia no trânsito brasileiro se deve a muitas causas.

Essas causas podem ser resumidas em apenas duas: a pressa e a alienação.

A pressa, muitas vezes injustificada, é uma compulsão por chegar à frente dos outros, uma arrogância, uma mania de superar os semelhantes nas ruas e nas estradas, os indivíduos se investem de um espírito de competição e se satisfazem doentiamente a cada ultrapassagem, querendo demonstrar para si próprios que são capazes e invencíveis.

Já a alienação consiste em que os motoristas não possuem a mínima consciência de que estão manejando uma mortífera arma, que a qualquer momento pode se desatar no trânsito uma tragédia, provocada pelo mínimo descuido ou inabilidade.

As pessoas dirigem com a naturalidade de quem está passeando num shopping, caminhando numa calçada, regando o jardim.

Quando, na verdade, dirigir é uma solenidade, é uma atividade que foge inteiramente à rotina, justamente pelo risco que encerra.

Uma carteira de habilitação não é uma licença para matar. Pelo contrário, é uma proibição para matar.

Há um derivativo nessas ações do trânsito que contribui para o número colossal de acidentes no Brasil: há pessoas que assumem o volante em busca de emoções, saem para as ruas como se estivessem participando de um videogame, satisfazendo-se intimamente com as façanhas cometidas nos percursos, deliciando-se ainda mais quanto mais forem arriscadas as manobras que intentam.

Quem dirige não tem consciência de que está trabalhando. Acha, ou que está se divertindo, ou cumprindo uma rotina que não é a principal da sua vida, daí que chama para si a distração e a alienação do ato que está praticando.

Tanto quem dirige está trabalhando, que os motoristas profissionais gastam horas, meses e anos de sua vida dirigindo.

Ou seja, é preciso fixar permanentemente a atenção no volante. Ter bem precisa a noção de que a direção é um meio precioso para atingir-se o fim, a chegada.

É um holocausto o que se verifica atualmente no trânsito brasileiro.

Isso vai ter de parar, os acidentes vão ter de ser somente os inevitáveis.

Repito: dirigir tem de ser uma solenidade. Algo importante, vital, especial, algo que vai decidir nossa vida. E dirigindo bem e com atenção vai decidir bem a nossa vida.

E não sair dirigindo por aí como quem vai para as pitangas, sem saber que em todos os dias, em todas as horas, a nossa vida está em jogo no trânsito.

Solenidade!

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