quarta-feira, 24 de dezembro de 2008



24/12/2008 e 25/12/2008
N° 15829 - DIANA CORSO


O que você ganhou de Natal?

Menina judia, não costumava ter meu próprio Natal. Mas ajudava a arrumar a árvore na casa da vizinha. Minha recompensa vinha: sob a árvore de dona Chichi amanhecia um Papai Noel de plástico recheado de balas.

Posteriormente, casei com um católico (ateu) e tive duas filhas, o que foi uma boa desculpa para comprar uma árvore plus-extra-large. Durante os anos da infância delas, entreguei-me prazerosamente à sua decoração. Meu marido diz que casei com ele só para poder montar minha árvore de Natal. Calúnia!

Minha relação estrangeira com essa festa católica talvez diminua a validade do que vou dizer: é falso que se trate de uma festa meramente consumista, capitalista e vazia. Momentos de encontro familiar, de dar e receber presentes nunca são vazios.

Um presente muito caro pode ser uma demonstração de poder econômico por parte do presenteador, ou mesmo de sacrifício, pois alguém se endividou para fazer o outro feliz. Um presente baratinho pode ser uma brincadeira criativa, um achado perfeito, ou um ato de desprezo.

Se dermos a alguém um presente que não lhe agrada, podemos estar atestando quão pouco nos importa quem é e do que gosta, ou mesmo com seu descontentamento essa pessoa pode estar demonstrando que não há o que possamos fazer para agradá-la.

Há os que fazem questão de desfazer-se de todos os presentes, trocando-os na loja, ou somente os recebidos de determinada pessoa. Em contrapartida, uma escolha feliz é ocasião de uma revelação de afeto. Nos amigos secretos paira a questão de se o nome no papel é sorte ou azar, e os presentes dirão a verdade. A maior parte desses diálogos através de objetos se dá de forma silenciosa, muitas vezes inconsciente, o certo é que não há ponto neutro.

Escolher algo para alguém é um exercício de tentar decifrá-lo. Porém, somos auto-centrados, achamos que os outros são o que queremos que eles sejam. Freqüentemente, o Natal acaba revelando o quanto desconhecemos os seres mais próximos.

Mesmo que se compre algo convencional, um brinquedo de moda, uma roupa de marca, estaremos falando coisas como: “Tenho medo de errar”, ou mesmo, “quero te ver como o feliz possuidor disso que todos cobiçam”, “quero que meu filho tenha acesso ao que eu não tive”, “sou um amante abastado”.

Duas décadas de clínica escutando pessoas preparando-se para esta festa e fazendo o balanço do que ocorreu nela, me ensinaram alguma coisa sobre o Natal. Na noite de hoje, muitas coisas estão sendo comunicadas através de presentes. E você, o que disse e escutou através desses objetos?

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