quarta-feira, 17 de dezembro de 2008



17 de dezembro de 2008
N° 15822 - PAULO SANT’ANA

De fazer rir

Ontem, parece que me programei para ouvir o verdadeiro malabarismo verbal de vários políticos que explicavam no rádio e na televisão um fato inexplicável: eles garantiam aos ouvintes e telespectadores que a empreitada que estavam levando à frente, a criação de mais 7,3 mil cargos de vereador no Brasil, não ia custar nenhum tostão aos cofres públicos.

Não posso entender como se atrevem a tal fancaria: tentar fazer crer que o aumento de 14% na coletividade de vereadores do Brasil não terá qualquer repercussão nos orçamentos das Câmaras Municipais e nos seus respectivos municípios é zombar da inteligência brasileira.

Não custam nada 7,3 mil vereadores!

Mas o que mais abisma é o seguinte: para que e em nome de que se criam esses milhares de cargos, depois que eles foram cortados pela Justiça e se cristalizaram como inexistentes nas últimas eleições?

Ou seja, quem não se elegeu passa agora, num passe de mágica, a se tornar vereador, deixando de ser suplente. Isso só pode acontecer no Brasil, onde uma verdadeira compulsão para sugar as tetas fartas do erário público se apodera das pessoas de tal maneira, que um efeito manada se arremessa para locupletar-se nas cabeceiras dos recursos públicos, tornando-se titulares de privilégios que amassam o grosso dos cidadãos, que se vêem desamparados pelos serviços estatais por força do desequilíbrio social provocado por essa gula.

Não é a primeira vez que se trava uma queda-de-braço entre a Justiça e a classe política.

A Justiça derruba os privilégios, valendo-se da independência dos poderes, os legisladores cometem o acinte ao Poder Judiciário de pulverizarem a sua decisão, criando leis que consagram suas conspiratas corporativistas.

Mesmo que os argumentos de que melhor e mais justa representatividade terá o eleitorado se for assim aumentado o número de vereadores em milhares de cadeiras possam por acaso vir a ser legítimos, defender a aprovação do projeto sob a alegação de que ele não provocará nenhuma repercussão no erário público é um deboche, uma prestidigitação retórica que deveria envergonhar os seus defensores.

Mas não se diga que pertence privativamente ao Poder Legislativo a vocação do desperdício dos recursos públicos. Os outros dois poderes também se mostram incontíveis e insaciáveis em seus gastos.

O que espanta, no entanto, neste caso e em outros tantos exemplos é que a supremacia do Poder Judiciário sobre os outros, já que a um dos três poderes tem de ser dada a prerrogativa de decidir sobre controvérsias da relação entre eles, seja desafiada dessa forma acintosa.

A Justiça já tinha decidido sobre os limites no número de cadeiras da vereança nacional.

Atacar essa decisão é um manifesto rompimento do equilíbrio entre os poderes. É uma violência. E acima de tudo é um corporativismo deslavado.

Uma das mais desoladoras entrevistas esportivas foi dada ontem no Jornal do Almoço pelo vice-presidente de futebol do Grêmio, André Krieger.

Ele disse que não chegará para o Grêmio nenhum jogador que possa levar a torcida ao aeroporto.

E deu a entender que nenhum jogador de destaque poderá ser contratado pelo Grêmio para disputar a Libertadores.

Uma entrevista funérea, que gela as esperanças que a torcida gremista acalentava por ter o clube conseguido um lugar na Libertadores de 2009.

Então, de que adianta participar de uma Libertadores com tal derrota praticamente anunciada?

Nenhum ânimo, nenhuma esperança, nenhum entusiasmo transmitidos assim pelos dirigentes à torcida é um quadro deprimente de inação da diretoria e de calvário do povo tricolor, que nega a história e a tradição do clube.

E o Internacional partindo adoidado para contratações.

Que tragédia às vésperas do Natal e de um ano que se pretendia novo!

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