segunda-feira, 22 de dezembro de 2008



22 de dezembro de 2008
N° 15827 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Todorov (3)

Diante das inúmeras perguntas enviadas a este espaço acerca do bombástico livro de Todorov, é preciso informar que, de fato, ainda não está traduzido para a língua portuguesa e, pelo que se sabe, para língua nenhuma. A edição original, ainda é possível obtê-la por livrarias virtuais francesas, assim mesmo de segunda mão, embora seja título novíssimo.

Pelos vistos, tanto professores do ensino médio como escritores ficaram chocados pelo conteúdo de A Literatura em Perigo (La Littérature en Péril) livro que, se de um lado critica o ensino de literatura, por outro deplora a conduta habitual dos escritores: os professores ensinam mais a teoria do que a leitura das obras literárias; os escritores, ou escrevem para a Universidade, ou sobre si mesmos ou simplesmente escrevem para negar tudo.

O quadro traçado por Todorov é no mínimo sombrio e, por sombrio, poderia ser atribuído a uma noite mal dormida. Mas um livro é escrito no tempo, sujeito a pausas reflexivas. Se Todorov disse o que disse, é porque o quis dizer. Cabe-nos pensar que tipo de experiências literárias coletivas são capazes de levar esse nome internacionalmente consagrado a fazer afirmativas tão categóricas.

A quem se dedique a tirar ilações de subtexto, a explicação do desencanto no que toca aos escritores pode encobrir a decepção com a chamada vida literária – que nada tem a ver com a literatura! – e que se manifesta em feéricos lançamentos de livros, elogios recíprocos, carreirismo e pressa, muita urgência.

No fundo, é o narcisismo galopante que move esses escritores, não a literatura. Aplica-se aqui o axioma de Leibnitz: tal como na natureza, a construção de uma carreira literária sólida não dá saltos.

Quanto aos leitores, esses, desconcertados, fazem-nos perguntas: “Como não consigo gostar desse livro de que todo mundo fala bem?” – ou vice-versa. Esses leitores começam a perceber-se como desconfortáveis nulidades.

Com eles, poder-se-ia usar de cinismo: “Bem-vindos à vida literária”. Mas se quisermos auxiliá-los, o melhor é responder: leiam o que lhes parece bom. O resto acontecerá por si mesmo.

Mas não é fácil, nada fácil.

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