quinta-feira, 4 de setembro de 2008



ANO DA FRANÇA NO BRASIL

Na semana passada, esteve em Porto Alegre Danilo Miranda, diretor do Sesc São Paulo e responsável, conforme nomeação do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, pela organização do ano da França no Brasil, que ocorrerá em 2009.

O cidadão fez um discurso longo e abstrato destes que liberam rapidamente o público para divagações mais produtivas sobre o sentido da vida.

Tentou responder à questão óbvia: quem pagará a conta dos eventos a serem realizados para homenagear a França? Segundo ele, se bem entendi, não será o Estado brasileiro nem o francês. Quem será então?

As empresas privadas. Cada um buscará recursos para financiar seus projetos. Miranda parece adepto daquela idéia de que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, embora ambas sejam vistas como a mesmíssima coisa. Conseguem compreender?

Segundo ele, ter um projeto 'chancelado' pela comissão organizadora do ano da França no Brasil não significa financiamento nem aprovação automática na Lei Rouanet, que permite buscar apoio de empresas privadas com direito a abater parte do investido em impostos. Na prática, contudo, será exatamente assim.

A 'chancela' deverá facilitar a aprovação na Lei Rouanet e, com esse 'selo' de qualidade, cada um deverá buscar recursos privados. O problema é que recursos diretos já foram investidos pelos estados organizadores. No Rio de Janeiro e em São Paulo.

Eu temi pela integridade física de Danilo Miranda. Seu discurso, com os pés fincados na 'mui leal e valerosa' Porto Alegre, roçou a soberba. Algo, no entendimento deste ouvinte contrariado, do tipo: o essencial acontece mesmo no centro do país...

Em outras palavras, depois que já estava tudo pronto, o generoso Miranda deu uma passada na periferia para não deixar a plebe de fora da grande festa e dar notícias do centro dos acontecimentos.

A Feira do Livro de Porto Alegre, ao menos, merecia um tratamento melhor. Devia ter sido desde o começo um dos núcleos da homenagem do Brasil à França.

Quem está habituado a trazer franceses a Porto Alegre, com financiamentos diversos e contatos próprios, não precisa da chancela de Miranda para coisa alguma. Um evento como a Feira do Livro deveria receber recursos da França e do Brasil para cumprir o seu papel cultural de disseminador e integrador na sua edição 2009.

Obrigar nossa Feira do Livro a participar de uma espécie de geléia geral e a pedir uma chancela para captar recursos, quando alguns certamente foram aquinhoados diretamente, é menosprezar o maior evento livresco a céu aberto da América Latina.

Paulistas e cariocas, bairristas contumazes sob o disfarce do cosmopolitismo, podem inventar o que quiserem, mas nem a Festa Literária de Paraty nem as bienais do livro de Rio e São Paulo têm a tradição, o charme, a grandeza e a relação com o público estabelecida pela Feira do Livro de Porto Alegre.

Quando eu ouço uma conversa como a do Danilo Miranda, com seus laivos condescendentes, fico indignado com os farroupilhas.

Como é que eles perderam a melhor oportunidade que tivemos de cair fora da hegemonia do Sudeste? Evidentemente que essa tentação separatista se esvai a cada final de Copa do Mundo.

Quero o Dunga na Seleção para sempre. Não pelos resultados. Mas pela sua determinação para contrariar a Rede Globo. Por extensão, o Sudeste. Pensando bem, andamos precisando de uma nova guerra civil. Ao menos para depor o Galvão Bueno.

juremir@correiodopovo.com.br

Como é inverno, segue o frio e as chuvas permanecem por aqui - Ainda assim, que tenhamos todos uma ótima quinta-feira

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