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sexta-feira, 5 de setembro de 2008
05 de setembro de 2008
N° 15717 - DAVID COIMBRA
A favor da ditadura
Um mês na China e voltei convencido do tanto que a democracia é supérflua. Porque esses valores subjetivos, como liberdade individual e solidez das instituições, são exatamente isso: subjetivos.
Freud dizia que tudo se resume a casa, comida e sexo. De fato, se a pessoa morar bem, se tiver trabalho, segurança, saúde e diversão, pouco se lhe dá escolher quem será o vereador ou o presidente da República.
Na China é assim. A China vive sob o tacão de uma ditadura feroz, mas os chineses estão muito satisfeitos com seu governo.
Afinal, a abertura capitalista lhes proporcionou algum conforto material, a perspectiva de enriquecimento e, tão curioso quanto contraditório, as maiores doses de liberdade que eles já experimentaram em 50 séculos de história.
Hoje os chineses viajam para onde quiserem, lêem livros ocidentais, ouvem rock’n’roll, ganham o seu dinheiro. Se o governo é de um único partido e é corrupto, eis uma minudência de somenos importância.
É que o governo em relação ao povo é como o homem em relação à mulher: precisa ter autoridade. O povo exige ser tratado com autoridade. Tanto que, muitas vezes, prefere a arbitrariedade à omissão.
Vide a Lei Seca brasileira: trata-se de uma lei exagerada, rigorosa em excesso. Mas é uma lei que funciona porque PUNE o infrator de forma administrativa. Ganhou o apoio do país inteiro, mesmo de quem a considera injusta.
Agora: o crime mais grave que pode ser cometido, o crime contra pessoa, com esse tipo de crime a legislação brasileira é leniente. Dizem que o rico não fica preso no Brasil. Não é verdade: NINGUÉM fica preso no Brasil. O sujeito agride, fere ou mata e, ainda que detido, está livre em dois dias. A não ser, claro, que ele seja pai da Isabela Nardoni.
Os parlamentares não se arriscam a propor uma lei mais dura porque, no Brasil, a repressão, mesmo que seja a repressão ao crime, é confundida com autoritarismo de direita. Não sabem que o brasileiro, assustado e, pior, acuado pela violência, já está reivindicando o autoritarismo, por enxergar aí uma forma de autoridade.
É que o Brasil já atingiu o patamar do insuportável. Quando a gente faz uma viagem longa como a que fiz, quando se fica algum tempo fora daqui, chega-se à constatação aterradora: o Brasil se transformou no pior país do mundo.
Talvez nem no Iraque, talvez nem nos países paupérrimos da África o cidadão conviva com tanta violência como no Brasil.
O brasileiro vive com medo, e quem vive com medo reage: torna-se agressivo, intolerante e violento também. É no que se tornou o brasileiro – um povo impaciente e mal-educado.
Por tudo isso, o brasileiro não agüenta mais. O brasileiro clama por uma solução e já não acredita mais nessa lenta e custosa democracia.
O brasileiro, a maioria dos brasileiros, aceitaria até a ditadura, se a ditadura livrasse o país do medo. E, realmente, há que se admitir: a ditadura é bem mais eficiente e rápida.
Eu também prefiro a ditadura. O problema, no caso, é só um: quem. Quem será o ditador? Eu só confiaria num único ditador para o Brasil: eu.
Todos os outros 180 milhões de brasileiros seriam insuportavelmente tiranos, não aceitaria obedecer-lhes e tenho certeza de que seriam injustos e inaptos.
Quer dizer: tenho que me contentar com a democracia. E torcer que, algum dia, o brasileiro compreenda que democracia e autoridade, democracia e ordem, democracia e respeito não são valores excludentes. Algum dia o Brasil entenderá isso. Espero que não tarde demais.
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