quarta-feira, 3 de setembro de 2008



03 de setembro de 2008
N° 15715 - DAVID COIMBRA


Uma noite no Lan Club

Agora vou contar a história da noite em que eu e Beckham jantamos no mesmo lugar. Não qualquer lugar. O melhor. O Lan Club, concebido pelo mais famoso arquiteto de interiores do mundo, o francês Philipe Starck.

Fomos a esse restaurante, eu e o Tulio Milman, por indicação do Norton Marcon, o coordenador da cobertura da Olimpíada. O Norton estava tão empolgado com o Lan Club, fez tanta propaganda. Aí pensamos na viagem de volta: 40 horas entre o primeiro aeroporto e o último.

Aliás, quando estava naquele moderníssimo aeroporto de Pequim, o maior do mundo, cheio de luzes e escadas rolantes e chineses, quando estava lá pensei: que saudade do Xodó 2, que saudade da Rodô. Porque no avião eles maltratam a gente. Começa com aquela comida. Eles dão muita importância para a comida deles.

Você se acomoda na cadeira estreita do avião e logo vem uma aeromoça ou um aeromoço com comida. Pasta ou chicken? Se você diz que não quer eles se espantam:

– O quê??? Não quer comida????

Pois não faço caso daquela comida. Eu mesmo compro a minha comida. Mas se você está num vôo de 15 horas, vai chegar um momento em que terá de aceitar a comida. Pasta, tudo bem. É aí que eles exercem seu poder.

Primeiro, com o carrinho da comida. São muito agressivos com o carrinho de comida, os aeromoços. Vão empurrando o carrinho pelo corredor e, se você está com um pedaço do ombro para fora da poltrona, eles o abalroam sem pena. O que importa é o carrinho da comida.

Mas o pior é quando eles deixam a bandeja de comida na sua frente. Você come em 10 minutos, a bandeja está ali, tolhendo-lhe os movimentos.

Passam-se os minutos, 10, 15, 20, você já comeu, você não quer mais aquela bandeja, mas quem diz que eles tiram a bandeja dali? Ah, não tiram. A bandeja fica apertando-o por uma hora inteira, você pede para que um aeromoço a leve e ele:

– Não, cara!

Ele poderia levá-la, mas não leva. Ele quer demonstrar o poder que tem sobre você. Ele pode, ele é o bom, ele tem a comida!

Foi por isso, por saber que sofreríamos tanto, que eu e o Tulio decidimos ir ao Lan Club. Nós merecíamos um pouco de luxo!

Disseram-nos lá que o Philipe Starck cobrou 20 milhões de dólares para assinar o projeto. Muito, mas o lugar é grande: 6 mil metros quadrados.

O banheiro, você tinha de ver: todo de mármore, a torneira é um pescoço de cisne e a água sai pelo bico do cisne, as paredes são espelhadas e a privada é tão limpa que você pode comer tofu nela.

Há espaço para 1.500 pessoas, o restaurante tem 200 mesas. Outros 300 abonados ficam em espaços particulares protegidos por lonas. O sujeito janta numa tenda, feito um sheik. Há uma boate, também. Naquela noite acontecia a festa da NBC. Tocava BB King sem parar.

Comi filé australiano com cogumelos, sugestão do chef. Implorei que viesse bu lada: sem pimenta. O garçom disse: certo, bu lada. Mas veio apimentado. Os chineses quase não usam sal, mas não vivem sem lada. A refeição, mais várias cervejas e a sobremesa, não se pode dizer que foi caro: 75 dólares per capita.

E ali, na mesa ao lado, meu xará David Beckham jantava e bebia um tinto, acompanhado de dois amigos. Victoria não viajou a Pequim.

Beckham vestia calça jeans e uma camisa branca dobrada nos punhos, aberta no colarinho. Reparei nas mulheres no entorno. Viravam os pescoços macios para ele e teciam comentários.

Algumas iam ao banheiro em grupos e faziam desvios para passar por perto da mesa dele. Eram mulheres de nível, via-se. Tinham de ser, para freqüentar aquele restaurante. Esperaram que Beckham terminasse de jantar. Quando o garçom recolheu os pratos, aí foi um enxame.

Elas pediam autógrafos, tiravam fotos. Havia uma loira que estava dentro de um vestido muito, mas muito curto, tanto que parecia um baby-doll, aquela loira era uma loira bronzeada, de longas pernas e boca carnuda, todas essas coisas, e essa loira, percebi, ela realmente queria ser a Victoria Beckham por um dia.

Mas não era. David Beckham a atendeu solícito e cordial, e depois a dispensou com toda a simpatia. A loira se foi suspirando. David tinha sido legal com ela. Bem. Sabe como nós somos, os Davids.

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