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sábado, 3 de maio de 2008
Diamantes descartados
"Países vencedores são os que operam bem na nova economia do conhecimento. Nessa nova economia, a riqueza mais preciosa são os cérebros bem lapidados. Lamentavelmente, jogamos no lixo essa matéria-prima"
Imaginem uma empresa cuja especialidade é receber cristais para lapidar. Quando aparece um diamante no meio, como não sabe lapidá-lo, ela o joga fora. Essa empresa existe? Infelizmente, existe. O seu nome: escola.
Ocasionalmente, despontam alunos muito mais talentosos que os demais. Estima-se que somem 3% da população. São diamantes em meio ao cascalho e ao cristal.
Como faz sentido dar um tratamento apropriado ao tipo de talento (e à idade própria para a intervenção), todos os países de educação bem-sucedida criam programas especiais para os talentosos. Na Inglaterra e na França, eles ganham acesso às melhores escolas.
Nos Estados Unidos, há escolas destinadas a eles (magnet schools) ou programas especiais dentro das escolas regulares (honors programs). Na Rússia (e em Cuba, por sua influência), há colégios para os talentosos nas artes, nos esportes e nas áreas acadêmicas.
No Brasil, quando vêm de famílias mais ricas, os talentosos são identificados e recebem a educação apropriada. Mas e quando são de famílias pobres? São ignorados pela escola.
Tanto na teoria tupiniquim quanto na prática, eles devem ser "integrados" aos demais. No entanto, como já foi demonstrado pela boa pesquisa, os talentosos são impedidos de desabrochar no tipo de escola que o Brasil oferece. Desajustam-se ou fingem ser medíocres, a fim de evitar conflitos e embaraços. São diamantes descartados.
Ilustração Atômica Studio
Diante da recusa dos sistemas públicos em lapidar esses diamantes, algumas organizações empresariais resolveram tomar o problema em suas mãos. Já faz tempo, a Fundação José Carvalho recrutava jovens talentosos no Recôncavo Baiano, para que freqüentassem o seu próprio colégio.
O Bom Aluno, no Paraná, também recebe alunos talentosos de escolas públicas, dando a eles bolsas para que estudem em bons colégios privados. O Ismart também seleciona alunos pobres da rede pública, oferece um programa de reforço escolar durante dois anos e concede bolsas de estudos para os melhores colégios do Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza.
A escola da Embraer (operada pelo Pitágoras) recruta todos os seus alunos nas escolas públicas das vizinhanças de São José dos Campos, mediante concurso. Como o sistema de seleção mostrou-se muito competitivo, os aprovados são alunos extraordinários.
Embora seja cedo para apresentar resultados definitivos, os alunos do Ismart tendem a se colocar acima da média de seus colegas, nos colégios freqüentados (que, segundo o Enem, estão entre os vinte melhores do Brasil). A escola da Embraer é a 17ª melhor do Brasil.
Ou seja, são alunos pobres ou muito pobres cujo excepcional desempenho escolar prenuncia uma carreira profissional brilhante.
Não obstante, além de praticamente não haver programas para os mais talentosos, as autoridades não gostam de ver tais alunos pescados de suas péssimas escolas públicas.
Acham errado premiar alguns poucos com uma educação compatível com o seu talento. Assim sendo, esses programas encontram problemas quando tentam aplicar os testes que permitem identificar os diamantes que vão lapidar.
Os diamantes não devem ser lapidados, isso seria injusto para com o simples cascalho, que, quando lapidado, tende a ser mais opaco. É o princípio da igualdade forçada de resultados, aplicado pelo expediente de tolher os mais talentosos. É uma justiça social muito caolha, pois os ricos mais talentosos não são desperdiçados.
Hoje, os países vencedores são aqueles que operam bem na nova economia do conhecimento. E, nessa nova economia, a riqueza mais preciosa são os cérebros bem lapidados. Lamentavelmente, jogamos no lixo essa matéria-prima.
Segundo o geneticista russo Wladimir Efroimson, "o talento não é uma propriedade privada, é uma propriedade pública e ninguém tem o direito de desperdiçá-lo".
De fato, é uma espantosa burrice jogar fora o único recurso que nos daria acesso à economia do conhecimento. É cometer o haraquiri do desenvolvimento. Está na hora de refletir sobre as nossas políticas públicas, para que não continuemos a perder essa riqueza.
Claudio de Moura Castro é economista (Claudio&Moura&Castro@attglobal.net)
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