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segunda-feira, 1 de outubro de 2007
01 de outubro de 2007
N° 15383 - Paulo Sant'ana
Cartilha dos assaltados
A violência passou a ser tema definitivamente incorporado aos códigos de educação e orientação pedagógica ministrados pelos pais e professores no Rio de Janeiro.
Os pais passaram a ter grande parte de seu tempo gasto com instrução aos filhos de como evitar os assaltos e de como se portar no caso de que sejam vítimas deles.
Eu simpatizo muito com esse tipo de orientação pedagógica. E assino embaixo que esse critério de educação seja ampliado até os adultos.
Nós não podemos mais encarar com surpresa a falta de segurança, é o que penso. Devemos estar preparados para ela, tanto tentando evitar os assaltos quanto adotando um plano de ação (ou omissão) no caso de que sejamos vítimas de assaltos, com a finalidade de mantermos uma tranqüilidade na companhia dos assaltantes que pode salvar as nossas vidas.
Sei que esse tipo de compreensão e comportamento não são aceitos por muitas pessoas e até por algumas raras autoridades que discordam dos seus pares, afirmando que a complacência das vítimas com os assaltantes estimula ainda mais a prática criminosa, facilitando a ação dos bandidos.
Eu discordo, tanto que durante algum tempo gastei alguns de meus espaços jornalísticos a inculcar na mente das pessoas que elas um dia serão assaltadas, não vai dar para escapar desse tremendo inconveniente ou fatalidade.
Em outras palavras, o que eu procurava é que as pessoas se preparassem para serem assaltadas, que já tivessem em mente um método de ação ou omissão no caso de serem abordadas por assaltantes.
Nós chegamos a um ponto no cotidiano brasileiro das grandes cidades em que o assalto tem de ser encarado com a mesma normalidade das blitze policiais.
Ninguém gosta de ser atacado em uma blitz policial, vai demorar, terá de mostrar documentos. Mas a blitz policial passou a ser corriqueira nas nossas cidades.
E, por incrível que isso possa parecer, aconselho as pessoas a se comportarem da mesma forma diante de uma blitz policial ou de um assalto.
Ou seja, sem se revoltar com a blitz, acatando-a, sem se revoltar com o assalto, sem tentar reagir, encarando o fato como mais uma das dificuldades da vida moderna, algo assim como o lançamento de um imposto por uma repartição arrecadadora.
Se as pessoas forem se sentir insultadas ou usurpadas no seu direito de ir e vir e na sua liberdade no exato momento em que serão assaltadas, vão instalar na ocasião um comício de protesto junto aos assaltantes, o que fatalmente detonará a violência por parte dos atacantes.
O certo é conformar-se com o fato de que foram escolhidas pelo destino para serem assaltadas e proceder da melhor forma possível, sem contestação ou reação física ao assalto: as estatísticas mostram que, em 99% dos assaltos em que as vítimas não reagem, elas salvam suas vidas, perdendo só seus bens pessoais.
Sendo assim, os pais e professores cariocas, no que serão copiados logo em seguida por todos os brasileiros, estão educando suas crianças com medidas preventivas contra assaltos, mas também como postura aconselhável de submissão e cordialidade diante dos assaltantes, quando chegar o momento, que deve ser esperado, do assalto.
Algumas cartilhas cariocas estão pregando até que as vítimas não devem considerar o assaltante um inimigo, mas sim produto de uma circunstância social. Podem me criticar, mas aprovo essa conduta.
Pela simples razão de que ela é psicologicamente favorável a que os assaltados não venham a sofrer ferimentos nem a perda de suas vidas.
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