terça-feira, 14 de outubro de 2025


O futuro político de Netanyahu

Em qualquer guerra, cada ator molda a própria narrativa para fortalecer sua posição perante o público interno ou internacional. No atual conflito, Donald Trump se apresenta como o pacificador, os terroristas do Hamas afirmam ter forçado Israel à negociação, e Benjamin Netanyahu reivindica o protagonismo por "trazer os reféns de volta".

No entanto, para projetar o futuro político do primeiro-ministro israelense, é necessário voltar no tempo exatamente 739 dias, até 6 de outubro de 2023 - 24 horas antes de os terroristas cruzarem a fronteira de Israel e iniciarem seu festim diabólico.

Àquela altura, Netanyahu era questionado internamente e réu por corrupção. Israel atravessava um dos períodos políticos mais conturbados e polarizados de sua história, marcado por instabilidade política, protestos em massa e crises institucionais: o país realizara cinco eleições parlamentares em menos de quatro anos, reflexo do impasse político entre blocos rivais que impediam a formação de governos estáveis. O sistema parlamentar israelense favorece coligações, mas a fragmentação partidária, somada à figura polarizadora de Netanyahu, dificultou acordos duradouros.

O país viveu alternâncias de governo entre Netanyahu e alianças amplas de oposição. Em 2021, por exemplo, uma coalizão anti-Netanyahu formada por partidos ideologicamente divergentes (incluindo árabes e ultradireitistas) assumiu o poder sob Naftali Bennett e Yair Lapid, mas desmoronou em 2022.

Netanyahu retornou ao poder em dezembro de 2022, liderando a coalizão mais à direita da história de Israel, incluindo partidos religiosos e ultranacionalistas.

Ao longo de 2023, especialmente nos meses que antecederam os atentados, grandes manifestações populares tomaram conta de Israel. O motivo era o plano de Netanyahu de promover uma profunda reforma no sistema judiciário, reduzindo o poder da Suprema Corte de revisar leis aprovadas pelo parlamento e implementando maior controle do Executivo sobre nomeações dos magistrados.

Ele estava minando os freios e contrapesos da maior democracia do Oriente Médio para se proteger das acusações de corrupção. Milhares foram às ruas semanalmente, incluindo reservistas das Forças de Defesa de Israel (IDF). Pilotos da força aérea e militares da reserva ameaçaram não se apresentar ao serviço, sinalizando fissuras graves dentro do aparato de segurança nacional.

Apesar do foco interno na reforma judicial, havia alertas crescentes de que o Hamas estava se reorganizando e de que a segurança nas fronteiras estava sendo negligenciada. O governo e o sistema de inteligência foram acusados de subestimar a ameaça do Hamas, concentrando-se excessivamente na Cisjordânia.

O massacre protagonizado pelos terroristas em 7 de outubro deixou tudo em suspenso - a união nacional em torno do objetivo de trazer os reféns de volta e a guerra em Gaza deram sobrevida ao governo.

Oportunidade e simbolismo

A libertação dos reféns é, para Netanyahu, uma oportunidade de reivindicar êxito: um momento fortemente simbólico que pode ser usado como prova de sua capacidade de comando, algo sempre associado a sua base eleitoral mais conservadora.

Entretanto, alguns membros da ala mais radical da coalizão de governo veem o acordo como concessões inaceitáveis diante de terroristas - libertar 1,2 mil criminosos, então, seria capitulação. O desafio será manter a coalizão coesa, equilibrando pressões internas contra a estratégia de negociação.

Netanyahu entrou no acordo em um momento de avaliação pública fragilizada, com desaprovação alta entre a população e desgaste acumulado pelo manejo da guerra. Há quem diga que pode ter "prolongado a guerra para se manter no poder".

A terça-feira, 14 de outubro de 2025, tende a ser o dia 1 do verdadeiro campo de batalha política: por que o governo não se antecipou ao ataque de 7 de outubro é uma pergunta latente. Por que demorou tanto para resgatar os reféns? Netanyahu pode enfrentar uma crescente onda de responsabilização.

Israel realizará eleições em outubro do ano que vem. Se souber capitalizar o momento, Netanyahu pode reverter parte do desgaste. Afinal, poucos líderes no mundo dominam tão bem a arte da sobrevivência política. Acuado inúmeras vezes, ele sempre encontra uma brecha para voltar ao centro do tabuleiro. Move-se como quem conhece cada atalho do poder. Afinal, o mais longevo premier de Israel sabe como poucos transformar crise em oportunidade. _

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Momento de abraços e chegada de caixões

Os 20 pontos do plano de Donald Trump são fartos em afirmar "o que" deve ser feito no Oriente Médio, mas falham ao não dizer "como" se chegará lá. Mas fiquemos com a celebração. O 13 de outubro de 2025 foi de esperança, de abraços, de orações. Se considerarmos que o conflito foi iniciado pelo massacre do Hamas, o dia pode, sim, ser considerado o final da guerra. Não é o final das disputas entre israelenses e palestinos, mas um capítulo se encerra.

Não há indícios de paz duradoura, apenas cessar-fogo. Mas esse passo é fundamental em uma operação militar que se desvirtuou de seu objetivo: "trazer de volta os reféns" virou "terra arrasada". Alguns países cresceram em relevância como atores no Oriente Médio - principalmente Catar e Turquia - e terão papel fundamental no futuro de Gaza. Mas o apoio da França e da Alemanha também é fundamental para equilíbrio de interesses.

Nesses 738 dias de guerra, estive duas vezes no Oriente Médio. Uma das cenas que mais me marcaram foi na Praça dos Reféns, onde havia uma mesa posta, com os lugares, um a um, à espera dos reféns. Esse dia chegou. Mas, infelizmente, muitos dos lugares permanecerão vazios. Enquanto muitos pais abraçarão seus filhos na volta, haverá aqueles que os encontrarão em caixões - ou, mesmo, haverá quem não receberá nada.

Em Gaza, as cenas de montanhas humanas sobre caminhões, de pessoas arrancando comida e remédios são a lembrança de que, na guerra, os civis, de um lado e outro, reféns de interesses, agendas políticas e vaidades, são os que mais sofrem. _

Lula fala sobre premier israelense

O presidente Lula afirmou ontem que o cessar-fogo entre Israel e Hamas é "motivo de alegria". Questionado se o acordo poderia abrir espaço para o Brasil melhorar suas relações com Israel, foi enfático:

- O Brasil não tem problema com Israel. O Brasil tem problema com Netanyahu. A hora que Netanyahu não for mais governo, não haverá nenhum problema entre Brasil e Israel, que sempre tiveram relação muito boa. Nós sabemos o papel que o povo judeu tem feito, inclusive lutando contra a atitude de Netanyahu. Nós sabemos que o povo judeu não concordava com boa parte daquela guerra. _

Presidente brasileiro se encontra com o Papa

Em viagem à Itália para o Fórum Mundial da Alimentação 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama Janja Lula da Silva se encontraram ontem com o papa Leão XIV.

Esta é a primeira vez que Lula se reúne com Leão XIV. Em abril, o presidente esteve presente no velório do papa Francisco.

Em conversa com jornalistas, Lula disse que houve "química" entre ele e o Pontífice. _

INFORME ESPECIAL 

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