
EM FOCO
Encontro entre Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, e Marco Rubio, secretário de Estado, será em Washington. Reunião ocorrerá depois de Lula e Trump terem tido uma breve fala ONU seguida de conversa telefônica
Tarifaço
Brasil e EUA realizam hoje rodada de negociação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou reunião entre Brasil e Estados Unidos, hoje, sobre a taxação extra aos produtos brasileiros exportados para aquele país.
Esse será o primeiro encontro entre autoridades dos dois países após a conversa entre Lula e o presidente Donald Trump, no início deste mês.
- Não pintou química, pintou uma indústria petroquímica - disse Lula, ontem, ao comentar a conversa telefônica que manteve na semana passada com o estadunidense.
Ele brincou com a fala de Trump sobre "a química excelente" entre os dois na ocasião em que se encontraram nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, em setembro.
- Amanhã (hoje), vamos ter a conversa de negociação - contou Lula em evento no Rio de Janeiro em comemoração ao Dia do Professor.
Após a química nas Nações Unidas e a conversa por telefone, Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações. Rubio, então, convidou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, para liderar uma delegação brasileira a Washington.
Vieira desembarcou na terça-feira na capital dos Estados Unidos para a agenda de trabalho.
Em entrevista recente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil vai oferecer os melhores argumentos econômicos para os Estados Unidos, para reverter o tarifaço. O principal deles, segundo o ministro, é que a medida está encarecendo a vida do povo estadunidense.
Haddad lembrou ainda que os Estados Unidos já têm superávit comercial em relação ao Brasil e muitas oportunidades de investimento no país, sobretudo voltado para transformação ecológica, terras raras, minerais críticos, energia limpa, eólica e solar.
O tarifaço imposto ao Brasil faz parte da nova política da Casa Branca, inaugurada pelo presidente Donald Trump, de elevar as tarifas contra parceiros comerciais na tentativa de reverter a relativa perda de competitividade da economia dos Estados Unidos para a China nas últimas décadas.
No dia 2 de abril, Trump impôs barreiras alfandegárias a países de acordo com o tamanho do déficit que os Estados Unidos têm com cada nação. Como os EUA têm superávit com o Brasil, na ocasião, foi imposta a taxa mais baixa, de 10%.
Big techs e julgamento
Porém, em 6 de agosto, entrou em vigor uma tarifa adicional de 40% contra o Brasil, em retaliação a decisões que, de acordo com Trump, prejudicariam as big techs estadunidenses e em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por liderar uma tentativa de golpe de Estado depois de ter perdido as eleições de 2022.
Entre os produtos tarifados pelos Estados Unidos, estão café, frutas e carnes. Ficaram de fora da primeira lista cerca de 700 itens (45% das exportações do Brasil aos EUA) como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes. Depois, outros produtos também foram liberados das tarifas adicionais. _
As exportações do Brasil para os EUA, em setembro, caíram 20,3% em relação a igual período do ano passado e somaram US$ 2,58 bilhões.
As importações cresceram 14,3% e chegaram a US$ 4,35 bilhões. Assim, a balança comercial com este parceiro comercial resultou em déficit de US$ 1,77 bilhão.
A corrente de comércio entre os dois países teve queda de 1,6%, alcançando US$ 6,92 bilhões.
No acumulado do ano, de janeiro a setembro, em relação ao mesmo período de 2024, as exportações para os Estados Unidos recuaram 0,6% e atingiram US$ 29,21 bilhões.
As importações cresceram 11,8% e totalizaram US$ 34,32 bilhões.
Com isso, houve déficit de US$ 5,10 bilhões e a corrente de comércio aumentou 5,7% chegando a US$ 63,53 bilhões.
Presidente faz crítica ao "baixo nível" do Congresso
No mesmo evento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou o encontro entre autoridades do Brasil e dos Estados Unidos, o chefe do Executivo criticou o Congresso Nacional dizendo que "nunca teve o baixo nível como tem agora". Lula afirmou que a "extrema direita que se elegeu em 2022 é o que existe de pior". A crítica foi feita ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que não esboçou reação, seja de concordância ou discordância.
Lula alertou os presentes na solenidade que em 2026 é preciso estar mais atento à eleição. Afirmou que "não colocamos a raposa para tomar conta do galinheiro" e que é preciso "decidir que tipo de Brasil queremos".
- Vocês que vão ter de saber qual senador vão eleger, o deputado federal, o estadual. É isso que é a cara do Congresso, o resultado da consciência política que tiveram no dia das eleições. Depois, não adianta reclamar - declarou.
O presidente enfrenta momento turbulento na relação com o Congresso. Na semana passada, viu a Câmara dos Deputados derrotar o governo federal e enterrar uma medida provisória que garantiria cerca de R$ 20 bilhões no ano que vem aos cofres públicos.
Vaias
Na solenidade, Motta foi vaiado quando iniciava discurso. O público, formado por profissionais da educação, também entoou gritos de "sem anistia", em referência a projeto de lei que tramita na Casa.
Poucos segundos após o início das vaias, Lula se levantou de seu lugar e permaneceu ao lado de Motta até o final de sua fala. Os dois chegaram a sorrir durante os gritos contra a anistia.
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