
07 de Outubro de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
A melhor notícia que Trump pode ter dado a Lula
Só o fato de ter ocorrido já transformaria em ótima notícia o telefonema entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas a publicação do americano em sua própria rede, a Truth Social, reforçou essa percepção. Enquanto a nota oficial brasileira foi cautelosa, a publicação de Trump foi entusiasmada. É bom lembrar que o atual ocupante da Casa Branca costuma ser hiperbólico, mas ainda assim o tom foi melhor do que se esperava.
"Nossos países ficarão muito bem juntos" foi a conclusão do presidente americano. Mas tão ou mais importante é o recado que parece ter passado a seu próprio governo neste trecho:
Discutimos muitas coisas, mas foi principalmente focada em economia e comércio entre os nossos países.
É legítima a leitura de que quis sinalizar que esses dois aspectos - e não política ou assuntos internos - vão definir os desdobramentos da conversa a partir de agora.
Do lado brasileiro, um dos sinais mais animadores é o fato de que Lula "se dispôs a viajar aos Estados Unidos", como informou a nota oficial depois da conversa. Dado seu próprio retrospecto, é um grande avanço. Também é positivo que - sempre segundo a nota - o elefante na loja de cristais já tenha sido nominado, com o pedido para "retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras." Para lembrar, a alíquota de 50% é resultado dos 10% impostos em abril, mais os 40% adicionais de agosto.
Definição de Rubio gerou cautela
A definição do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, como responsável por "dar sequência às negociações", informada na nota oficial brasileira, havia enevoado o cenário. Como o Departamento de Estado nos EUA equivale ao Ministério das Relações Exteriores no Brasil, seria uma "escolha natural".
Mas não seria impossível indicar, por exemplo, o secretário de Comércio, Howard Lutnick. Rubio é mais inclinado à polarização política do que a uma avaliação técnica do problema. É, ainda, um dos integrantes da Casa Branca a quem os antipatriotas que defenderam adoção do tarifaço têm acesso, ainda que indireto.
Segundo interlocutores de negociadores brasileiros, Lutnick estaria mais sensível a uma revisão do tarifaço de 50% sobre o Brasil. O motivo não está vinculado à diplomacia nem ao multilateralismo. Há relatos de que as barreiras à importação já estão se refletindo na inflação americana, como previsto.
Ao afirmar que "gostou do telefonema", Trump reforça sua própria afirmação, de que gosta de negociar com líderes com os quais simpatiza. Apesar de todos esses acenos, a cautela do governo brasileiro se justifica: todo esse esforço é só para abrir a negociação. O que será exigido em troca da redução da alíquota de 40% ou de mais exceções vai custar. Só não se sabe quanto. _
O eco do telefonema entre Lula e Trump bateu no dólar, que recuou 0,47%, para R$ 5,31. Na bolsa, houve queda de 0,4% com declaração do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sinalizando corte no juro só em 2026.
Ligação com tráfico pesa na Argentina
A renúncia do deputado José Luis Espert à reeleição pelo partido do presidente Javier Milei no final de semana adicionou estresse na Argentina. A decisão foi tomada depois da revelação de um extrato do Bank of America (BofA) com pagamento de US$ 200 mil (R$ 1,06 milhão pelo câmbio atual) feito pelo condenado por tráfico Frederico "Fred" Machado.
É uma fragilidade que Milei terá de administrar a 20 dias da eleição decisiva para o futuro imediato da Argentina, porque o apoio financeiro prometido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está condicionado à vitória do atual presidente e seus aliados. No dia 26, a Argentina vai renovar metade dos deputados e um terço dos senadores.
A combinação de incertezas leva mais pressão ao mercado cambial, que já passava por sobressaltos. Há forte demanda por dólar, cuja cotação voltou ao patamar de 1,5 mil pesos. A disparada combina expectativa de mudança na política monetária depois das eleições e mau desempenho das forças de Milei nas pesquisas, que reforça dúvida sobre a manutenção do plano econômico e do sistema de bandas cambiais. _
Exportações do RS a EUA caem 51,5%
Exatos dois meses depois de o tarifaço de Donald Trump contra produtos brasileiros entrar em vigor, dados apresentados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que as exportações do RS para os EUA caíram 51,5% em setembro. Os valores despencaram a menos da metade, de US$ 172,4 milhões para US$ 83,6 milhões, comparando o mês passado com igual período de 2024. Considerando os dois primeiros meses de sobretaxas, os embarques gaúchos para os americano somam redução de 35,7%.
O tabaco teve forte contribuição, com queda de 95,4% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado. Armas e munições (-77,1%) e celulose (-69,4%) também empurraram as exportações do RS para os EUA para baixo no período.
Tabaco, armas e munições pagam tarifa de 50% para entrar no mercado americano. No entanto, celulose está livre de qualquer alíquota adicional desde 5 de setembro. O RS não exportou carne bovina aos EUA em setembro, produto também afetado por taxa de 50%. _
A polêmica administrativa
De tanto ser cobrado a fazer algo que importe a seus eleitores, o Congresso tenta mostrar serviço. No final da semana passada começou a movimentação para tentar retomar a reforma administrativa prometida desde o governo anterior.
A ambição é grande, e o pacote, abrangente: tem proposta de emenda à constituição (PEC), projeto de lei e projeto de lei complementar. Alguns dos principais problemas estão contemplados, como o os famigerados "penduricalhos" e supersalários.
A dificuldade, como sempre, não é como as propostas entram no Congresso, e sim como saem. Na sexta-feira, assim que o relator da proposta, Pedro Paulo (PSD-RJ), e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), começaram a expor os pontos previstos, surgiram articulações de entidades de servidores para frear as mudanças.
As propostas são ambiciosas e, no ponto mais ousado - a tabela única de remuneração, até cautelosas. Há previsão de prazo de 10 anos para ser definida. O problema é o momento em que volta ao debate.
Embora tenha a vantagem de ter sido ressuscitada pela necessidade de melhorar a imagem depois do desgaste provocado pela aprovação da PEC da Blindagem, a proposta está sendo retomada a menos de um ano até as eleições gerais de 2026.
No governo anterior a trava foi imposta pelo então presidente Jair Bolsonaro no segundo ano de mandato. O atual está no penúltimo. É difícil imaginar que faça um grande esforço pela aprovação de propostas que embutam riscos de perder votos entre servidores públicos. _
Avaliação periódica e incentivos por bom desempenho para permitir avanço na carreira e receber bônus.
Tabela única nos três poderes da União, dos Estados e dos municípios: prevê piso de um salário mínimo e teto no limite constitucional (hoje de R$ 46 mil).
Fim de privilégios: limita auxílios de alimentação, transporte e saúde a 10% para quem recebe 90% ou mais do teto constitucional e verba indenizatória à variação da inflação.
Planejamento obrigatório: presidentes, governadores e prefeitos teriam de publicar plano de metas em 180 dias após a posse.
Limite para CCs: só 5% do total da força de trabalho, com exceção para pequenos municípios, nos quais poderia chegar a 10%.
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